Qualquer
idade
* Por
Evelyne Furtado
Luiza
adormeceu na casa dos trinta e nos sonhos tinha vinte e poucos. Então
acordou na obrigatoriedade de se comportar como uma mulher de
sessenta e tantos naquela manhã, em que lhe tiraram com apenas uma
frase, o excesso de gravidade dispensável a uma mulher em qualquer
idade.
Na semana seguinte sentiu como se dezesseis tivesse, embora se esforçasse para pensar com a mente de quarenta.
Nessa contradição lembrava Sinhá Rita, personagem de um conto de Machado de Assis, que trazia uma idade na certidão de nascimento e outra no olhar.
Agora Luíza tem todas as idades durante um só dia. Na frente do espelho alterna na avaliação: uma hora se vê como sempre foi; em outra estranha as novas linhas a lhe marcar o rosto.
No seu íntimo a incoerência se repete: em um momento age com esperança adolescente, para em seguida, com certo cansaço, recolher seus desacertos,
Assim Luíza segue sem fazer contas, mas com muita vontade de chegar aos noventa, vivendo muitos momentos felizes.
*
Poetisa
e cronista de Natal/RN.
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