Poema
* Por
Alexandre Bonafim
Ergo
as paredes desse poema
claro,
transparente
como
a nudez do dia.
Desenho,
linha a linha,
a
luz dessas palavras,
instante
imaculado,
fecunda
lâmina.
Nesse
verbo me deito.
Nele
me preparo para a morte.
Nesse
vinho adormeço.
Nele
me cicatrizo por inteiro.
Faço
desses versos
a
minha pele,
as
minhas pernas.
Teço
com esse sopro
as
minhas vértebras,
o
meu âmago.
Nas
sílabas desse poema,
sustento
a gravidade do mundo,
ergo
o dia como uma coluna
de
pássaros e árvores de âmbar.
Nas
letras desse abismo,
escrevo
esse silêncio vertical,
perfeito
como o céu de maio.
Ergo
as paredes desse texto,
como
quem erige o próprio túmulo,
a
mesma velha antiga eternidade.
Do
livro “Arqueologia dos acasos”.
* Poeta, contista,
cronista, crítico literário, professor e mestre em Literatura.
Autor dos livros “Biografia do deserto”, “Sobre a nudez dos
sonhos” e “Arqueologia dos acasos”..
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