O
Brasil no mapa mundial da violência
* Por
Daisy Lucas
“Nada
é permanente, exceto a mudança” (Heráclito, 540 a. C.)
Eu
já tinha lido em jornais a notícia, “Violência no Brasil mata
mais que guerra na Síria”, “A cada nove minutos morre uma pessoa
assassinada no Brasil”, mas, você sabe… Manchete de jornal não
tem tanta credibilidade para mim, infelizmente. Mas quando tomei
conhecimento dos detalhes da Nota Técnica do IPEA prestei muita
atenção, afinal não era uma manchete, era um Estudo,
estatisticamente medido, provado e comprovado.
Inicialmente
eu fazia uma leitura atenta e cuidadosa e, sinceramente, não estava
me surpreendendo tanto assim. Por quê? Os tópicos eram mais ou
menos conhecidos – dados sobre violência de gênero, ou contra
afrodescendentes, estatística mostrando que os homicídios ocorrem
na maior parte em jovens na faixa produtiva, ou seja, dados que
costumam fazer parte do noticiário de todos os dias.
Até
que dei de cara com essa afirmativa:
Em 2014, pelo menos 59.627 pessoas sofreram homicídio no Brasil, o que elevou nossa taxa para 29,1 mortes por 100 mil habitantes. Trata-se de uma situação gravíssima, ainda mais quando notamos que mais de 10% dos homicídios do mundo acontecem em solo nacional.
Em 2014, pelo menos 59.627 pessoas sofreram homicídio no Brasil, o que elevou nossa taxa para 29,1 mortes por 100 mil habitantes. Trata-se de uma situação gravíssima, ainda mais quando notamos que mais de 10% dos homicídios do mundo acontecem em solo nacional.
(IPEA)
– Atlas da Violência 2016 .
Não. Não é possível, pensei a princípio. Um minuto depois caí na real: a Nota Técnica não era de um “boteco” qualquer, destes que liberam pesquisas cujos resultados são visivelmente manipulados, etc, etc, tratava-se do IPEA, órgão que costuma ser respeitado pela credibilidade, mesmo pelas pessoas que não concordam com suas posições.
Não. Não é possível, pensei a princípio. Um minuto depois caí na real: a Nota Técnica não era de um “boteco” qualquer, destes que liberam pesquisas cujos resultados são visivelmente manipulados, etc, etc, tratava-se do IPEA, órgão que costuma ser respeitado pela credibilidade, mesmo pelas pessoas que não concordam com suas posições.
Será
que as pessoas que detêm o Poder em nosso país não percebem que
estes resultados são fruto do descaso dos governantes para com a
crise que temos vivido desde sempre? Sim, desde sempre… , porque há
muito tempo a Educação é relegada a último plano, e para mim aí
está a grande questão. Povo que não tem Educação competente não
tem cultura, não sabe que tem deveres, e muito menos que tem
direitos.
As
mudanças que ocorrem hoje na tecnologia, na Ciência, nas relações
sociais, na Economia, são tão radicais e constantes que vale dar
uma passadinha lá no ano 540 a. C. e citar Heráclito, quando disse
“Nada é permanente, exceto a mudança”. As mudanças estão
atropelando o teor das respostas, a crise é uma só, mas com caras
diferentes. São até caras meio gêmeas, mas definitivamente não
univitelinas.
Pois
é, mudam as situações, mas as respostas aos problemas continuam as
mesmas – repetidas, equivocadas, suspeitas. Os poderosos não têm
coragem (ah, como eu gostaria de ser bem grosseira e dizer outra
palavra em vez de “coragem”), não têm a coragem de admitir que
as antigas respostas não estão mais funcionando, e tentar novas
respostas. Para isso, precisava haver uma profunda reflexão e
ousadia.
Não,
preferem “deixar tudo como está pra ver como é que fica” e para
preservar a si e à sua família, mudam-se (preferencialmente para
Miami).
Enquanto
isso, vamos por aqui permitindo que os afrodescendentes, os gays, e
as mulheres morram. MORRAM, e virem estatísticas a ponto de termos o
“honroso” posto no mapa de violência mundial, como 10% dos
homicídios do mundo.
*
Pedagoga.
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