Era da superpopulação
A
humanidade está em uma encrenca monumental e sequer se dá conta
(aliás, são tantas que se torna até difícil de nomear qual é a
pior). Não me refiro ao chamado efeito estufa, gravíssimo, posto
que ignorado solenemente pela opinião pública mundial e pelo
presidente norte-americano Donald Trump. Refiro-me a uma de suas
causas, se não a principal. Não se trata, também, da crescente e
dramática escassez de água potável, que já afeta a, no mínimo,
um bilhão de pessoas e que tende a se agravar de ano para ano. Nem
das ameaças de uma impensável era de fome generalizada em
decorrência dos caprichos do clima. E nem do surgimento de novas
doenças, com ameaças de pandemias potencialmente incontroláveis,
como é o caso específico da chamada “gripe suína”.
Tudo
isso, sem dúvida, é grave e ameaça a espécie humana (quiçá
todas as formas de vida do Planeta). Mas para se buscar uma solução
que, se não detenha, pelo menos retarde o processo que, certamente,
levará a uma catástrofe de dimensões imprevisíveis, é preciso
atacar as causas, não as conseqüências. Por mais óbvio que isso
pareça, e de fato seja, não é o que vem ocorrendo.
Detesto
escrever sobre assuntos desse tipo, já que, até por temperamento,
sou um sujeito otimista e bem-humorado, que sempre espera o melhor do
futuro. Contudo, não sou alienado. Não posso deixar de pôr a boca
no trombone face àquilo que não apenas me ameace como indivíduo,
mas o faça, também, em relação aos meus descendentes. É, pois,
meu instinto de preservação da espécie que me leva a gritar,
gritar e gritar, embora me pareça que todos estejam surdos e se
recusem a ouvir, não apenas os meus brados, mas os alertas de
especialistas sobre o que vem acontecendo.
E
qual é essa enorme encrenca em que a humanidade está metida, maior
do que o efeito estufa, a escassez de água potável e de alimentos,
as pandemias etc.? É a “bomba populacional”! A população
mundial vem se multiplicando de forma assustadora, e justo nos países
que não têm a menor estrutura, a mínima condição de alimentar,
vestir, educar e dar condições de vida minimamente decente aos
enormes contingentes que anualmente se incorporam aos seus já
problemáticos e numerosos habitantes. E esse acelerado incremento de
pessoas, que parecia preocupar, há algum tempo, planejadores,
economistas, líderes políticos e os meios de comunicação, vem
sendo deixado de lado, notadamente pelos formadores de opinião.
Alguns agem assim por mera alienação. Outros, por comodismo. Outros
ainda por pura ignorância. E boa parte se omite e lava as mãos pelo
fato do assunto não ser “politicamente correto”.
Não
se veem, mais, editoriais na imprensa, alertando para o exagero da
cegonha em trazer novos passageiros à espaçonave Terra, já
superlotada, emporcalhada, com a despensa se esgotando, repleta de
lixo e com o ar viciado e difícil de respirar. Não se leem, mais,
declarações de especialistas a respeito. É como se o problema não
existisse e se vivêssemos num Éden de eternas delícias.
Obviamente, não vivemos.
Atentemos,
por exemplo, para o caso do Brasil. Ainda em 1970, éramos em torno
de 70 milhões de habitantes. Todos se lembram, certamente, da
musiquinha que estimulava a Seleção Brasileira à vitória na Copa
do Mundo do México. Ela já começava por declinar a nossa população
de então. A letra dizia: “setenta milhões em ação....”
Pois
é, e quantos somos hoje? Recentes estimativas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística revelam que já somos em torno
de 207 milhões de habitantes! E isso, porque a taxa de natalidade
brasileira despencou pela metade e se aproxima do índice dos países
desenvolvidos. Ou seja, em menos de quatro décadas, mais do que
triplicamos o número de pessoas no País. E os recursos, aumentaram
nas mesmas proporções? Longe disso! Como se pode, pois, aspirar a
um futuro minimamente tranqüilo e civilizado, face a essa realidade?
E olhem que sequer somos os piores.
O
escritor Aldous Huxley, em meados da década de 50 do século XX, fez
uma previsão que soava a profética e que, na verdade, não era mais
do que mera extrapolação lógica. Na ocasião, não foi ouvido.
Pelo contrário, foi classificado de “neomalthusiano”, de
catastrofista e de outras coisas piores. Houvesse, então, sido
tomada alguma providência (não me perguntem qual, pois eu não
sei), hoje o panorama seria pelo menos não tão sombrio e desolador.
Não se tomou nenhuma.
Aldous
Huxley escreveu, em 1957, no romance “Volta ao admirável mundo
novo”: “O problema dos números, que rapidamente se multiplicam
em relação aos recursos naturais, à estabilidade social e ao
bem-estar dos indivíduos, é a questão fundamental da humanidade; e
permanecerá sendo o problema crucial por outro século e talvez por
muitos outros séculos no futuro. Supõe-se que uma nova era se
iniciou a 4 de outubro de 1957. Porém, no contexto presente, toda a
nossa exuberante conversa pós-Sputnik é irrelevante. Se tomarmos
como ponto de referência as massas de humanidade, a era vindoura não
será a Era do Espaço e sim a Era da Superpopulação”.
Pois
é, e agora, o que vem sendo feito? Nada, nada e nada, absolutamente
nada! Há campanhas mundiais, por exemplo, propugnando pela
paternidade responsável (o mínimo que se pode fazer a respeito)?
Onde? Encabeçada por quem? Apontem-me uma peça publicitária, uma
reles e única, com esse teor. E as coisas só não estão piores
porque, parodiando Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho
havia uma Aids”. A eclosão da pandemia dessa doença levou muitas
pessoas a se preocuparem com o sexo seguro. Não fora isso... Nem é
bom pensar!
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Um grave problema que deveria sim, estar na pauta, e como você disse, não está. Pelo menos o trouxe a baila. E que outros façam coro e você.
ResponderExcluir