Epílogo
* Por
Alberto Cohen
Por que teus lábios
tremiam? E a canção que tentavas cantarolar, quando inventaste?
Entre nós dois, a mesa
que escolhemos juntos era agora um campo neutro, onde dois generais inimigos
negociavam a rendição e a derrota, paradoxalmente, de ambos.
Nos olhos ardilosos de
negaças, cada um procurava antecipar as reações do outro para argumentar as
réplicas e tréplicas da discussão cansada e exaurida.
Por que o calor no meu
rosto e o frio nas minhas mãos suadas?
Por que a imagem,
refletida em tuas pupilas, de um velho maldoso e feio, cheio de rancores e
mágoas, que eu queria tanto não ser? Quanto sofri por me veres assim.
Por que tamborilavas
com os dedos na madeira, nervosa e impaciente, dizendo coisas que não pareciam
ditas por tua boca? Talvez uma declaração de amor e um beijo tivessem o poder
de desencantar-te.
Por que,
inesperadamente, a vontade de tomar-te nos braços, no colo e acarinhar-te por
muito tempo? Quem sabe, carícias e tempo pudessem transmudar-te na mulher de
antigamente.
Por que não te
lançaste em meus braços ou me tomaste ao colo, dizendo as palavras mágicas que
sabias dizer, mas esqueceste? Choraríamos juntos e a ternura e a luz
retornariam do lugar nenhum para onde as expulsamos.
Por que, na despedida,
não reeditamos o final de Casablanca? Teríamos, ainda, Paris.
Por que esta sensação,
que sinto e, talvez, sentes, de gêmeos separados, bruscamente, que vão se
procurar por toda a vida?
*
Poeta paraense.
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