O terror dos estudantes
A Matemática é o
terror de estudantes de vários níveis de ensino, a despeito de sua tremenda
importância e de ter sido uma das primeiras (se é que não foi a primeira)
manifestações de racionalidade do bicho homem. Claro que não são todos os que
têm dificuldades de entender (e de aprender a usar) essa importante disciplina,
a verdadeira “mãe de todas as ciências”, indispensável à nossa vida prática em
todas as instâncias. Sequer se pode garantir que seja a maioria que se dê mal
com ela, embora haja fortes evidências disso. Utilizamos a Matemática a cada
passo do nosso cotidiano, do despertar ao momento de nos recolhermos para
dormir, mesmo que não nos demos conta dessa utilização.
Claro que não se
exige, para tal, que sejamos matemáticos brilhantes, sumidades dessa
disciplina, gênios com Albert Einstein, por exemplo, que dominem, com toda a
facilidade e rigor, conceitos sofisticados de trigonometria, de logaritimos, de
limites e derivadas, equações complexíssimas de primeiro e segundo graus e vai
por aí afora. Mas se não quisermos ser logrados a todo o momento no dia a dia,
devemos conhecer, pelo menos, o elementar: as quatro operações aritméticas
simples. Só assim saberemos, no mínimo, receber o troco correto, sem erros, ao
pagarmos nossas contas e outras tantas básicas coisinhas mais. Há quem não
domine nem isso. E onde reside o problema? Na complexidade da matéria ou na
maneira dela ser ensinada?
Bem, simples,
propriamente, a Matemática não é, mas também não é nenhum bicho de sete
cabeças, desde que estudada com método, concentração e disciplina. Por se
tratar de “ciência exata”, não admite enganos. Basta você fazer uma proposição
errada, ou, numa equação, trocar o sinal de mais por menos, para obter
resultado distante mil anos-luz da correção. Afinal, um trabalho matemático
consiste na procura de padrões (e estes têm que ser rigorosamente exatos),
formular conjecturas pertinentes e, mediante deduções rigorosas a partir de
axiomas e definições, estabelecer novos resultados. Boa parte dos professores
da matéria complica na sua exposição, utilizando métodos equivocados, de pouca
ou nenhuma didática, em vez de buscar caminhos óbvios para o entendimento dos
alunos.
Por exemplo, em vez de
ensinarem seus pupilos a deduzirem as principais fórmulas, apresentam-nas já
prontas e exigem que estes as “decorem”. Na hora de aplicá-las, os atarantados
alunos, certamente, irão vacilar, por não entenderem sua origem e, por
conseqüência, sua importância. Essa é somente uma das tantas falhas cometidas
pelos mestres dessa disciplina. E elas acendem às dezenas, centenas, quiçá às
milhares. A Matemática, na verdade, pode ser o que de fato é. Ou seja, um
delicioso exercício de lógica e de racionalidade. Desde que a pessoa domine
suas regras, transforma-se em algo lúdico e agradável. O que? Você duvida! Em
caso afirmativo, ouso dizer que você aprendeu (se é que aprendeu mesmo) essa
disciplina de modo completamente errado.
Sem querer posar de
sabichão (o que não sou), a Matemática é, para mim, um dos exercícios de
concentração e de lógica mais agradáveis que conheço. Tive a sorte de, desde o
antigo primário até a faculdade, ter professores esclarecidos e competentes,
interessados, de verdade, em ensinar, e não em exibir sua erudição e nem em
utilizar a matéria como forma de exorbitar de seu poder, mediante ameaças de
reprovação. Tenho, em minha biblioteca, um bom número de livros de exercícios
matemáticos, a maioria com questões de vestibulares das mais renomadas
faculdades de engenharia do País, com os quais me “diverti”, por opção pessoal,
por anos, resolvendo esses problemas. Quando jovem, morador de uma república no
distrito de Barão Geraldo, em Campinas, foram inúmeros os domingos e feriados
que preenchi, solucionando questões matemáticas, sem ser obrigado por ninguém a
fazê-lo, simplesmente como forma de lazer, como maneira fascinante de preencher
meu tempo livre, intercalando essa atividade com palavras cruzadas e com charadas,
dois outros dos meus hobbies preferidos.
Não preciso nem dizer
que fui mal interpretado pelos colegas de moradia. Era chamado, jocosamente, de
Dr. Silvania (o cientista maluco, vilão das histórias do Capitão Marvel), de
“gênio aloprado” ou, simplesmente, de Doidão. Esses apelidos nunca me
incomodaram. Não raro, até me envaideceram, ora bolas! À exceção das quatro
operações elementares, da porcentagem, das regras de três (simples e
compostas), das proporções e razões (creio quer não esqueci nada), nunca
utilizei e nem utilizo, na prática, os princípios matemáticos que aprendi e que
tanto treinei. A profissão que exerço há décadas, o jornalismo, jamais me
exigiu esse conhecimento. Ainda assim, ao contrário do que muitos ainda dizem,
os tantos dias em que me debrucei sobre complexos problemas matemáticos não
foram, em absoluto, perda de tempo. Muito pelo contrário. Considero-os
utilíssimos, por me “treinarem” a raciocinar com método, com disciplina e com
rigor.
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Muito bem, Pedro! Muitos trechos mereciam ser citados:
ResponderExcluir“Boa parte dos professores da matéria complica na sua exposição, utilizando métodos equivocados, de pouca ou nenhuma didática, em vez de buscar caminhos óbvios para o entendimento dos alunos.
Por exemplo, em vez de ensinarem seus pupilos a deduzirem as principais fórmulas, apresentam-nas já prontas e exigem que estes as ‘decorem’. Na hora de aplicá-las, os atarantados alunos, certamente, irão vacilar, por não entenderem sua origem e, por conseqüência, sua importância........
Tive a sorte de, desde o antigo primário até a faculdade, ter professores esclarecidos e competentes, interessados, de verdade, em ensinar, e não em exibir sua erudição e nem em utilizar a matéria como forma de exorbitar de seu poder, mediante ameaças de reprovação............
Ainda assim, ao contrário do que muitos ainda dizem, os tantos dias em que me debrucei sobre complexos problemas matemáticos não foram, em absoluto, perda de tempo”.
Eu também, amigo, em um trecho da minha vida, ali pela adolescência, estudei matemática com afinco, primeiro, porque desejava ser suburbano e ao mesmo tempo filósofo grego (!!!!!, depois, por razões mais práticas, para ganhar algum dinheiro e ter direito a comer um bauru no centro do Recife. Chegeui até emsmo a começar o curso, que abandonei por discussão com um mestre intolerante, arbitrário, fascista.
Mas não foi perdido aquele tempo. De vez em quando me serve. (Até hoje deduzo as fórmulas da trigonometria a partir do conceito dos eixos do círculo trigonomérico).
Quando puder, escreva por favor sobre Joaquim Cardozo, o poeta pernambucano que foi calculista de Niemeyer.
Abração.
Eu tive um ensinamento fraco em Matemática, no período escolar que se chamava Ginásio, e isso comprometeu a minha compreensão anos depois no Científico. Na Medicina, passo apurada quando tenho de calcular doses de medicamentos quando se relacionam com a superfície corporal e não com o peso. Feliz foi minha mãe, que além de médica, era fera em Matemática.
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