Um dia feliz na Granja
* Por
Carlos Bozzo Junior
De todos os perigos
que rondam o viajante que sai de São Paulo em busca de um lugar para passar o
sábado - ou o domingo - pertinho da capital, um deles é não querer voltar. Isso
acontece com muita gente que vai, por exemplo, à Granja Viana. Espalhando-se
por áreas das cidades vizinhas de Cotia e Carapicuíba, a Granja poderia passar
como um distrito verde de São Paulo, já que grande parte de seus moradores
trabalha na metrópole. A região tem seu principal acesso pela Avenida São
Camilo, no quilômetro 24 da Rodovia Raposo Tavares, pouco depois do Rodoanel.
Para os iniciantes, uma informação relevante: não há pedágio no caminho.
Nos anos 1940, a área
era uma grande fazenda, ou granja, como se dizia, de leite, propriedade do
empresário Niso Vianna. Mais para a frente, nos anos 1980, paulistanos passaram
a ocupá-la, vivendo em propriedades imensas, impensáveis para os padrões e
valores da capital. De maneira espontânea, a Granja tornou-se uma antítese ao
estilo de vida da metrópole. Em vez do fast-food delivery, almoço de família; a
substituir o playground raramente visitado do prédio, quintais cheios de
árvores e cães labradores.
Mas não é preciso ter
um desses amigos latifundiários na Granja para desfrutar da região. Ela está
repleta, por exemplo, de novidades gastronômicas, muitas delas bastante
acessíveis. É o caso do recentíssimo Xin Hua, com bufê de pratos chineses e
japoneses ao preço fixo de R$ 28,90 (no almoço de terça a sexta), e do Don
Camillo, de cozinha cantineira. Na Granja há ainda A Tal da Pizza, uma pizzaria
estrelada pelo GUIA BRASIL onde o cliente pega a própria bebida na geladeira, o
Félix Bistrot, restaurante francês que ocupa uma bela casa com piscina, e,
entre outras especialidades, churrascarias e restaurantes vegetarianos.
Pais com filhos
pequenos têm a região entre as "favoritas" de seu GPS ou coisa que o
valha. É que lá ficam não uma mas logo três dessas minifazendas onde a meninada
tem contato com animais, ordenha vacas, corre atrás de pavões. Uma delas é a
Cia. dos Bichos, que mantém também emas e jegues, além de uma casa de pau a
pique com cozinha típica, aberta, onde os grandes tomam café passado em coador
de pano e os pequenos preparam pães ou biscoitos no forno a lenha. A ordenha da
vaca - hit do parque - é acompanhada por uma encenação didática e bem-humorada
dos monitores. A Bichomania, que tem ainda quatis e macacos-prego em seu
elenco, e o Pet Zoo, com seus coelhos e ovelhinhas, são outras opções, já bem
mais próximas do centro de Cotia. Mais "holística" é a Floresta dos
Unicórnios, uma área particular imensa do industrial Michel Haradom que é
utilizada para atividades de conservação e difusão de ensinamentos de
sustentabilidade. O Ibama manda para lá animais vítimas de comércio ilegal e
maus-tratos, e a Floresta os reabilita. É possível ver parte desses cerca de 5
mil bichos por trás de enormes viveiros. A população de pavões - uns 700 - se
reproduziu ali. Aos fins de semana, há oficinas e palestras, mas é preciso
agendar antes de ir. Em março, os proprietários celebravam o nascimento de um
filhote de veado.
Crianças um pouco mais
crescidas vão enlouquecer com outra atração da região, o Kartódromo
Internacional Granja Viana. Frequentado pelos pilotos Rubinho Barrichello,
Felipe Massa e Tony Kanaan, entre outros, ele é tocado por Felipe Giaffone,
ex-piloto da Indy americana e atual da Fórmula Truck brasileira (a dos
caminhões). Em seu kartódromo só se vai à pista, de 1 140 metros e ao ar livre,
com equipamento de segurança (capacete, luva, macacão).
Como nas competições
oficiais de automobilismo, há uma tomada de tempo para definir o
"grid" de largada, de cinco minutos. A prova dura de 20 a 25 minutos.
Rogerio Vieira de Alencar, 34 anos, analista de sistemas, conheceu o kartódromo
com os amigos e resolveu trazer depois a mulher. "Vim correr com uns
amigos e me apaixonei. É um programa divertido, antiestresse mas com muita
segurança", diz. "Dá para passar um dia bem feliz". Os carros
não excedem os 85 quilômetros por hora, mas, como o kart é muito baixo, a
sensação de velocidade é poderosa.
A Granja andou
recentemente pelas páginas dos jornais por causa de um grande lançamento que
ocupará uma de suas últimas áreas verdes, inclusive com remanescentes de Mata
Atlântica, o Alphaville Granja Viana. Estima-se que já foram abatidos 28 campos
de futebol de mata. O Movimento em Defesa da Granja Viana (MDGV), que se reúne
justamente na Floresta dos Unicórnios, foi à Justiça contra o empreendimento,
que englobará uma Área de Preservação Permanente (APP), terá as casas sem muro
no estilo de Alphaville e trará, com certeza, mais congestionamentos à
principal via da Granja, a Avenida São Camilo. O projeto, somado à estreia do
trecho sul do Rodoanel, que vai aproximar a região à Zona Sul de São Paulo e ao
litoral, é também um dos fatores do encarecimento dos terrenos por lá. Se você
considerava mesmo o risco de não voltar de sua visita à Granja, eis uma notícia
para, quem sabe, tranquilizá-lo.
* Crítico musical
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