terça-feira, 24 de agosto de 2010




Rubor

* Por Evelyne Furtado



Na semana que passou ouvi Zuenir Ventura e Luis Fernando Veríssimo falando sobre a dificuldade que antecede o ato de escrever. Ouvi mais Zunir do que Veríssimo. Para ser mais exata o primeiro falou e o segundo confirmou com um gesto.

-Senhores, fiquem certos de que o leitor não percebe. Essa aqui, por exemplo, só aprova o que vocês escrevem e no momento sofre para juntar lé com cré em um texto minimamente inteligível.


Lembro de Rachel de Queiroz falando de tal angústia. Ela foi uma das primeiras escritoras que conheci e de cara gostei. Para mim as estórias saíam de sua pena facilmente. Ela, no entanto, dizia que era um sofrimento.

De que é feita essa agonia? Suspeito que tem a ver com responsabilidade, exposição, e aprovação. No meu caso garanto que é timidez. Empaco porque alguém vai me ler e me julgar.


Mas nem sempre é assim. Às vezes minha prosa jorra entre sensações, opiniões e sentimentos.
O problema é que quando releio alguns desses textos meu estômago revira. Não me reconheço em alguns e em outros me reconheço demais.


Tímida e impetuosa. Essa sou eu. Agora mesmo, encontro-me entre esses extremos e meu rosto está esquentando. Devo estar vermelha por me incluir entre os nomes acima citados. Pronto: revelei-me de novo.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

7 comentários:

  1. Não me lembro do primeiro livro que li e nem com
    quem me identifiquei, minhas paixões foram se
    revelando aos poucos, mas tinha uma fã incondicional
    que vibrava com minhas linhas, minha mãe.
    Não diria que sou tímida e já não me sinto tão nua
    quando me "vejo" em minhas poesias, pelo contrário
    flerto com essa situação e sigo em namoro.
    Que você continue seguindo com impetuosidade.
    Abraços

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  2. Fico sempre surpresa quando vejo/ouço escritores dizendo que sofrem para escrever. Nesses momentos acho que não sou escritora, porque sinto um imenso prazer antes (quando a ideia vem), durante a escrita, e adoooorrooooo reescrever uma, duas, cinco, dez vezes um conto, um poema.
    Com a crônica nem sempre temos tempo necessário para reescrever, mas quando dá...
    Beijos

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  3. Ontem uma pessoa leu um texto meu na tela e falou: "nossa, deve ser um sofrimento escrever isso" Respondi que, ao contrário, era um prazer. Para mim, calar, não ter com quem falar, ou em estremo, desenhar um rosto numa bola - igual ao filme do náufrago - para conversar com ela, isso sim, é sofrimento. Quanto a exposição, ela acontece, mas na medida em que queremos. Há quem entenda que o que não é nosso é exatamente o que vivemos, ou o contrário, que a nossa experiência, vindo travestida com roupagem nova, pode ser outro que não nós. A ficção pode ser assim.

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  4. Núbia, Risomar e Mara, muito obrigada pelos comentários. Também sinto esse prazer, mas às vezes travo. Foi ótimo ler os depoimentos de vocês. Beijos.

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  5. Pra mim, escrever dói. É processo angustiante, laborioso. Concordo com o que disse a Rachel de Queiroz. Inclusive vi uma entrevista dela na tv, um pouco antes de falecer, em que dizia que escrevia por ser obrigada, e que se achasse um original inédito perdido numa gaveta para enviar ao jornal seria um desencargo, uma forma de livrar-se de um castigo. No entanto, todos somos testemunhas da excepcionalidade daquilo que ela fazia a contragosto...
    Bom tema e bom texto, Evelyne. Um beijo pra você.

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  6. Reprisam sempre essa entrevista deliciosa, Marcelo! Gosto demais de rever Rachel na sua simplicidade. Obrigada, amigo. Beijos

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