quinta-feira, 14 de junho de 2018

O bom marido repentino - Gustavo do Carmo



O bom marido repentino

* Por Gustavo do Carmo

O casamento deles estava à beira do abismo. Faltava dar um passo à frente: o divórcio. Adelaide não aguentava mais a folga do marido Agenor. Ele não trabalhava. Perdera o emprego por causa da crise econômica. O jornal onde trabalhava fechou a editoria de automóveis. E nem pretendia procurar outro emprego. 

Ficava o dia inteiro em casa, vendo televisão e acessando a internet até de madrugada, sem ajudá-la na cozinha. Além de tudo isso, ele era frio com ela e quando o convidava para sair, dizia que não estava a fim. Mas dava umas saídas suspeitas, que para Adelaide, era para encontrar com a amante.

De um dia para o outro, Agenor mudou o seu tratamento com a esposa. Começou a dar-lhe flores e presentes. Não artigos para a casa, mas perfumes, lingeries e bijuterias, pois ainda não tinha dinheiro para comprar joias. Tornou-se mais romântico. Também passou a fazer dieta e a malhar. Um dia, convidou-a para sair. Foram a um boteco, mas era um bom recomeço. Terminaram a noite na cama. 

Mesmo assim, Adelaide ficou ainda mais desconfiada. Para ela, quando um homem muda o tratamento assim, de repente, é porque tem outra mulher na jogada e ele está querendo disfarçar. E sua mãe fez questão de reforçar esta suspeita. 

Apesar de ser odiado pela sogra, Agenor começou a agradar Dona Ademildes também. Passou a visitá-la todos os domingos, lhe deu uma imagem de Santa Rita de presente e passou a acompanhá-la todos os domingos à missa. Dona Ademilde mudou de opinião em relação ao genro. 

Passado um mês, Adelaide descobriu que estava grávida do primeiro filho. Na hora de contar a novidade para o marido, decidiu questioná-lo. 

Gê, eu tenho que dar uma notícia e te perguntar uma coisa. 
Fala, amor. 
Em primeiro lugar, eu estou grávida. 

Agenor abraçou forte a esposa, beijou a sua barriga e começou a chorar feito criança. Esperou o marido se acalmar para enfim perguntar: 

Querido, eu estou muito feliz por estar grávida e pela sua mudança repentina como marido. Eu só queria saber porquê. 
Eu realmente estava de saco cheio de você. Só que eu percebi que dar presentes e me tornar um marido melhor iria sair mais barato do que a papelada. Eu arrumei um emprego, mas mesmo assim ainda não tenho dinheiro. 
Seu cachorro, desgraçado! Então saiba que eu que vou pedir o divórcio. Eu arrumei um namorado rico e é ele quem vai pagar. E o filho é dele.


* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess - http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/ e
PerSe -http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310

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