Crime
e Castigo em “Eu matei”
*
Por Nelson Hoffmann
Temos
que LER!
Tento
lembrar quando me aconteceu isso, mas não consigo. Talvez nunca
tenha acontecido, mas isso é improvável, porque alguma coisa sempre
já aconteceu comigo? Quando?
Não
lembro.
Agora
aconteceu de verdade, de forma forte e palpável. Eu podia tocar o
sentimento e o pensamento dentro de mim mesmo. Eu lia “Eu Matei..
(Confissões de um presidiário)”, de Valter Figueira, e ficava
pensando, sentindo e vivendo a monumental figura de Dostoievski.
Fedor
Mikhailovitch Dostoievski (1821-1881), para quem não sabe, e quem
não sabe?, foi talvez o maior romancista de todos os tempos e seu
livro, “Crime e Castigo”, um livro que provocou calafrios, e
mesmo hospitalização em nossa Clarice Lispector, quando leu pela
primeira vez. “Crime e Castigo” é a história de um assassinato
cometido pelo estudante Raskolnikov e que fica sem descoberta de
autoria. A consciência leva Raskolnikov à confissão, tornando-se
eterno, em longas páginas do livro, um debate estabelecido entre o
estudante e o Juiz de Direito, que só fica à espreita do trabalho
da consciência dentro do criminoso.
Em
“Eu Matei...” também surge um longo debate entre o assassino
indescoberto e o padre da localidade. As justificações, defesas e
acusações vêm de ambas as partes, sob os mais variados ângulos,
sem que nunca se chegue a uma conclusão. É a problemática do Bem e
do Mal, da vida humana, da sina do homem neste mundo. E que faz cada
um agir como age, sem que saiba por que embora sempre tenha seu
próprio porque para cada ação cometida. E a seqüência das ações
torna todo o livro uma reflexão sobre todo o existir humano.
Em
“Eu Matei...”, os assassinatos de Homero Chaves são iscas para
prender a atenção e amostra do que resulta de uma sociedade sem
rumo, calcada no egoísmo e no isolamento de cada um de si mesmo.
Sempre mais, a cada dia que passa.
Leia
e verá! Clareará muito a vista do que está acontecendo com você e
seu redor, todos os dias. Com mais inconsciência do que desconfia.
-
Escritor gaúcho
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