Almoço da Páscoa
* Por Núbia Araújo Nonato
do Amaral
Entrei na casa ventando,
invadi a cozinha dei um beijo em sua cabeça e fiquei
estrategicamente encarapitada em suas costas. Hoje ela ia preparar o
almoço da Páscoa, todos os anos eu acompanhava aquela alquimia.
Ficava impressionada com os movimentos daquelas mãos pequenas e de
seus dedinhos curtos.
A couve estava separada em uma
vasilha lavada e sem o talo. As batatas foram cozidas numa panela com
água e cubos mágicos que ela não deixava eu ver. As cebolas
cortadas em grossas rodelas, azeitonas sem caroços e muito azeite
para regar o prato. O bacalhau separado em postas e dessalgado
aguardava sua entrada magistral.
Eu olhava aquilo tudo com água
na boca enquanto ela me vigiava com um sorriso disfarçado, não
queria me dar confiança... O forno já estava ligado só para dar
uma aquecida no prato. No tabuleiro folhas de couve pré-cozidas, uma
camada de batatas cortadas em rodelas, as postas de bacalhau as
cebolas e as azeitonas. As camadas iam se sucedendo intercaladas.
Por fim, ela despeja o azeite
em cima do prato e o leva ao forno. A mesa preparada para receber o
prato principal estava arrumada, uma confusão de pratos e talheres,
crianças e adultos, até que ela surge soberana e deposita o
bacalhau na mesa sorrindo feliz em ver a casa cheia e por ser o
centro das atenções.
Ela se foi... hoje quem faz o
bacalhau sou eu... Desvendei alguns mistérios e segredos daqueles
dias, mas sem dissecá-los. Seu ingrediente secreto? Amor.
*
Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário.
Os cheiros e gostos nunca vão embora, a lembrança do amor pode ficar esmaecida, enquanto a saudade aumenta.
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