Anhangá*
**
Por Antonio de Campos
Poema escrito 15 anos antes
do assassinato de Marielle Franco
De sangue pisado
é a
rosa na lapela
do terno de linho caiado
com a cal do túmulo dos
tombados
E o coração, somente
um músculo doente
Deus & o Diabo
dormem juntos
no mesmo motel
Sem fim os bárbaros,
sua tribo, feito urtiga
Sem controle a legião –
em todo lugar vinga
Um cadáver perde a mãe
em cada esquina
Por feliz se dá
quem foi morto
uma só vez
Onde há dois,
dos pés dum o tapete some
pior que o tombo
cabeça esmagada
Olho por olho
deixou de ser a lei
Não há mais olho a perder –
todos
já nascem cegos
Há brilho de césio nas
palavras!
* Espírito do Mal entre os
índios tupy
Ao terminar este poema,
estava me sentindo desconfortável, como se possuído pelo
Espírito que, até hoje, acompanha o nosso país: o Espírito
de Anhangá.
** Poeta, jornalista
e advogado
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