sexta-feira, 13 de maio de 2016

Cervantes, o novo manco




* Por Urariano Mota


Tem sido muito comum, no jornalismo dos últimos tempos, repórteres não atentarem para o valor das palavras. Atentam contra, digamos.

Na Folha de São Paulo, por exemplo, podemos ler sobre Miguel de Cervantes aqui

“Reza a história que o autor participou da batalha de Lepanto em 1571, onde se feriu na mão esquerda, no peito e em uma perna, ficando manco”.
De fato, um dos maiores gênio do mundo ficou conhecido como o “manco de Lepanto” (da batalha de Lepanto). Mas Cervantes possuía defeito na mão, nunca na perna. E por que o repórter estendeu o ferimento de Cervantes até a perna?  O erro veio da palavra “manco”, cuja etimologia o repórter não conhece.   Está no Dicionário Houaiss:
“Etimologia
lat. mancus,a,um 'maneta, privado de braço ou de mão, mutilado, estropiado'; em 1050 como alcunha in Dipl.; ver manc-; f.hist. sXV mamqua “

No tempo de Miguel de Cervantes, ficar manco depois de uma batalha não era perder a perna. Ficar sem a mão ou o braço já bastava. Hoje, não. De manco, Cervantes no  jornal vira mancada.

* Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici, “Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus” e “Dicionário amoroso de Recife”.  Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros.



3 comentários:

  1. Eu não sabia. Também iria supor lesão numa perna. No Aurélio diz que mancar também é coxear, mas manco se refere a alteração de funcionamento de braço ou perna. Quando referirmos apenas ao membro inferior, devemos dizer claudicar.

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  2. Sinceramente, mancar pra mim é andar manco, ex: fulano está mancando, porque machucou o pé... Quando "manco" logo caio fora... Ontem, eu dei uma "mancada"... rsrsrs

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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