Cervantes, o novo manco
* Por Urariano Mota
Tem sido muito comum, no jornalismo
dos últimos tempos, repórteres não atentarem para o valor das palavras. Atentam
contra, digamos.
Na Folha de São Paulo, por exemplo,
podemos ler sobre Miguel de Cervantes aqui
“Reza a história que o autor
participou da batalha de Lepanto em 1571, onde se feriu na mão esquerda, no
peito e em uma perna, ficando manco”.
De fato, um dos maiores gênio do
mundo ficou conhecido como o “manco de Lepanto” (da batalha de Lepanto). Mas
Cervantes possuía defeito na mão, nunca na perna. E por que o repórter estendeu
o ferimento de Cervantes até a perna? O erro veio da palavra “manco”,
cuja etimologia o repórter não conhece. Está no Dicionário Houaiss:
“Etimologia
lat. mancus,a,um 'maneta,
privado de braço ou de mão, mutilado, estropiado'; em 1050 como alcunha in
Dipl.; ver manc-; f.hist. sXV mamqua “
No tempo de Miguel de Cervantes,
ficar manco depois de uma batalha não era perder a perna. Ficar sem a mão ou o
braço já bastava. Hoje, não. De manco, Cervantes no jornal vira mancada.
*
Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da
redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações
Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici, “Soledad no Recife”, “O filho
renegado de Deus” e “Dicionário amoroso de Recife”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao
ensino em colégios brasileiros.
Eu não sabia. Também iria supor lesão numa perna. No Aurélio diz que mancar também é coxear, mas manco se refere a alteração de funcionamento de braço ou perna. Quando referirmos apenas ao membro inferior, devemos dizer claudicar.
ResponderExcluirSinceramente, mancar pra mim é andar manco, ex: fulano está mancando, porque machucou o pé... Quando "manco" logo caio fora... Ontem, eu dei uma "mancada"... rsrsrs
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