Tema proibido
* Por
Paulo Clóvis Schmitz
Pessoas próximas têm
se empenhado em preservar minha pele e, como prova de estima, fazem de tudo
para evitar que externe opiniões sobre política. Quando, embalado por um trago,
reajo com ironia a algum comentário que soa como inoportuno, sempre aparece
alguém sugerindo moderação e parcimônia no trato com as palavras. Nesse campo
minado, admito, ninguém tem muita razão, se é que alguma razão há quando se
aborda um assunto que a todos diz respeito, mas que é contraditório por
natureza.
Em política, assim
como no futebol, todos acham que estão certos, por mais esdrúxulos que sejam
seus argumentos e motivações. Quando nosso time perde para o maior rival ou
empata com o lanterna, sempre há a possibilidade de diminuir o valor da
conquista alheia ou de esculhambar quem falhou e contribuiu para o êxito do
adversário. Na política, mais mesquinha e maniqueísta, errados são os outros, com
suas ideias equivocadas, rasteiras, eivadas de malícia, cinismo e más
intenções.
Na arquibancada, o
pior que pode acontecer é engolir uma consideração sarcástica sobre os pernas
de pau de nossa equipe. Na política, perdem-se amigos, desfazem-se relações que
pareciam inquebráveis, rompem-se laços familiares por causa de conceitos e
preconceitos que carregamos conosco por onde andamos. De qualquer maneira, há
muita besteira sendo dita e escrita em nome de uma situação, digamos,
momentânea, de uma crise como tantas outras, de um cenário que está longe de
ser o pior que o país já enfrentou em sua conturbada trajetória.
Em matéria de política
há os que, por temperamento, se alinham a quem está no poder, ao passo que
outros, também por razões íntimas, postam-se invariavelmente nas fileiras da
oposição. “Hay gobierno, soy contra”, disse um anarquista. Para outros,
especialmente os peemedebistas, a máxima se inverte: “hay contras, soy
gobierno”. Quando sobrevém uma crise como a atual, que mexe com o emprego e os
ganhos de muita gente, “el gobierno” é apedrejado sem piedade, pois tudo de
ruim é tido como obra de quem tem a caneta na mão.
Tenho para mim que há
muitas forças querendo desmerecer os méritos da democracia, detratada pelos que
querem ver nela mais que realmente é – um estatuto tão imperfeito quanto os
homens que o engendraram. Contudo, sem ser o melhor, é o menos pior dos regimes
com que já tomamos contato. Até quando nos impedem de dizer o que pensamos, num
encontro fortuito ou na mesa de um bar, por medo de retaliações ou
arranca-rabos familiares, a democracia é, inconscientemente, exercida.
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Paulo Clóvis Schmitz é jornalista, Florianópolis / SC
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