quinta-feira, 3 de março de 2016

Tema proibido


* Por Paulo Clóvis Schmitz


Pessoas próximas têm se empenhado em preservar minha pele e, como prova de estima, fazem de tudo para evitar que externe opiniões sobre política. Quando, embalado por um trago, reajo com ironia a algum comentário que soa como inoportuno, sempre aparece alguém sugerindo moderação e parcimônia no trato com as palavras. Nesse campo minado, admito, ninguém tem muita razão, se é que alguma razão há quando se aborda um assunto que a todos diz respeito, mas que é contraditório por natureza.

Em política, assim como no futebol, todos acham que estão certos, por mais esdrúxulos que sejam seus argumentos e motivações. Quando nosso time perde para o maior rival ou empata com o lanterna, sempre há a possibilidade de diminuir o valor da conquista alheia ou de esculhambar quem falhou e contribuiu para o êxito do adversário. Na política, mais mesquinha e maniqueísta, errados são os outros, com suas ideias equivocadas, rasteiras, eivadas de malícia, cinismo e más intenções.

Na arquibancada, o pior que pode acontecer é engolir uma consideração sarcástica sobre os pernas de pau de nossa equipe. Na política, perdem-se amigos, desfazem-se relações que pareciam inquebráveis, rompem-se laços familiares por causa de conceitos e preconceitos que carregamos conosco por onde andamos. De qualquer maneira, há muita besteira sendo dita e escrita em nome de uma situação, digamos, momentânea, de uma crise como tantas outras, de um cenário que está longe de ser o pior que o país já enfrentou em sua conturbada trajetória.

Em matéria de política há os que, por temperamento, se alinham a quem está no poder, ao passo que outros, também por razões íntimas, postam-se invariavelmente nas fileiras da oposição. “Hay gobierno, soy contra”, disse um anarquista. Para outros, especialmente os peemedebistas, a máxima se inverte: “hay contras, soy gobierno”. Quando sobrevém uma crise como a atual, que mexe com o emprego e os ganhos de muita gente, “el gobierno” é apedrejado sem piedade, pois tudo de ruim é tido como obra de quem tem a caneta na mão.

Tenho para mim que há muitas forças querendo desmerecer os méritos da democracia, detratada pelos que querem ver nela mais que realmente é – um estatuto tão imperfeito quanto os homens que o engendraram. Contudo, sem ser o melhor, é o menos pior dos regimes com que já tomamos contato. Até quando nos impedem de dizer o que pensamos, num encontro fortuito ou na mesa de um bar, por medo de retaliações ou arranca-rabos familiares, a democracia é, inconscientemente, exercida.


* Paulo Clóvis Schmitz é jornalista, Florianópolis / SC

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