Diante de uma telinha em branco
O que escrever? Essa é pergunta constante que o escritor se
faz, a todo momento – antigamente diante de uma folha de papel em branco e, nos
tempos atuais (salvo exceções) à frente da telinha do computador vazia de
caracteres, à espera de ser preenchida. A dúvida, na maioria das vezes, não se
prende à falta de assunto, mas, pelo contrário, á sua abundância, ao excesso
deles. Há dias, porém, que por maior que seja a variedade de temas pipocando em
nossa cabeça, não se destaca nenhum que naquele exato momento se imponha e que
consideremos “maduro” para ganhar existência em letras de forma. Essa, aliás,
não é uma pergunta que atormenta somente escritores, e nem mesmo é a única
(antes fosse), mas, às vezes, se constitui em drama para todo redator O que escrever?
Caso se trate de tarefa rotineira, a dúvida vem acompanhada
de pressão. Aí a coisa pega e se complica de vez!! Digamos que você tenha
coluna fixa de crônica (ou de artigo, não importa) em algum jornal de
circulação diária e que, para complicar, tenha cometido a imprudência de
elaborar o tal texto, aguardado com ansiedade e explicável impaciência pelo
editor (que tem que cumprir um deadline) na última hora. Caso não tenha que
entregar sua produção no mesmo dia e não esteja convicto sobre o que escrever,
pode, simplesmente, adiar a redação para outro dia. Com tempo, portanto, para
planejar e decidir. Mas, na hipótese que levantei, isso não é possível. O
editor já telefonou três vezes, cobrando o tal texto, e você sequer definiu
qual o assunto que vai abordar. O que fazer? Pior, o que escrever?
Essa é uma situação muito mais comum do que o leitor possa
imaginar. Volta e meia passo por ela, por mais que me previna. De um jeito ou
de outro – nem mesmo sei como – tenho me saído bem. Caso contrário... há muito
que minhas colunas teriam sido substituídas pelas de outros redatores e eu
teria perdido preciosos espaços para divulgar minha produção. Alguns, sob
pressão, não conseguem escrever nada. As idéias embaralham-se, não raro dá um
súbito “branco” na mente e não conseguem pensar em absolutamente nada. No meu
caso, todavia, tenho longo treinamento no jornalismo.
Nas várias redações pelas quais passei fui condicionado a
escrever sob todo tipo de pressão. Mas não a redigir qualquer coisa, mal e porcamente,
o que não é solução, mas agravamento do problema, porquanto se o fizesse
perderia o emprego. Fui treinado a, mesmo quando pressionado, a escrever com
qualidade. Claro que nem todo texto é uma obra-prima, um primor de perfeição.
Aliás, no meu caso, e no de tantos e tantos escritores, produções que sobrevivam
ao tempo e ao esquecimento, por serem impecáveis, são raras, raríssimas. Dou-me
por satisfeito quando as redações saem claras, sem erros de nenhuma espécie
(sobretudo gramaticais) e com conteúdo. Têm que sair! É o mínimo dos mínimos
que se cobra de um redator.
A maior dificuldade, quando me vejo envolvido nas
circunstâncias que descrevi, tão logo defina o assunto a tratar (que, não sei
por que sortilégio, brota, como lampejo, de repente na mente) é como iniciar e
como concluir o texto. Não sei explicar a razão, mas o “miolo” da crônica (quando
é o caso), sai macio e suave, para a minha (agradável) surpresa. Nunca empaquei
nessa parte. As coisas são bem mais simples quando o tema a abordar me é
imposto por quem encomenda o tal texto. Nessas circunstâncias, nunca encontrei
dificuldades em escrever. Mesmo quando se trate de assunto que exija vasto
conhecimento. Modéstia a parte, conto, a meu favor, nestes casos, com
considerável cultura geral, fruto não somente da minha razoavelmente boa
trajetória acadêmica, mas, principalmente, de uma “overdose” de leitura.
Trago isso, hoje, à baila, como modesta contribuição aos
escritores novatos, que quando se vêem confrontados com circunstâncias como
estas, chegam a duvidar do próprio talento. Acham que esse vazio mental diante
de uma folha de papel em branco ou da telinha do computador acontece só com eles
e que, portanto, não têm vocação para a atividade que tanto amam. Contam,
ingenuamente, que terão na hora que quiserem o que se convencionou chamar de “inspiração”,
quando Literatura, na verdade, se faz com pelo menos 99% de transpiração. É um
trabalho braçal, exaustivo e quase nunca compensador. Para estes, que desanimam diante de dificuldades
que são generalizadas, informo (e espero que me acreditem) que elas são
sumamente comuns para qualquer redator, embora quase todos neguem enfaticamente
já terem passado por algo assim. Mentem
desavergonhadamente, claro.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Outro desafio além do tema, é o que falar sobre ele. Como terminar o texto? E ao final, achar que ele nada acrescenta, que é banal, óbvio e dispensável. A maioria, eu acho. Então, os comentários entram para dizer até que ponto houve erros e acertos. Caso alguém fique comovido ou com raiva das posições defendidas é porque deu certo.
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