O preconceito do
jornalista
* Por
Gustavo do Carmo
Já ouvi várias vezes -
na faculdade de jornalismo que eu fiz, nas dicas de sucesso da mídia e
principalmente na pós-graduação em telejornalismo que eu não terminei – que o
jornalista não pode ser preconceituoso.
Pela vivência que eu
tenho, esse conselho só vale para o horário de trabalho, pois o jornalista –
salvo algumas exceções - é o profissional mais preconceituoso que existe.
Durante o expediente ele é obrigado a entrar em favela, enfrentar tiroteio,
entrevistar humildes trabalhadores, ignorantes, desdentados (nada contra estes),
assaltantes, moradores de rua, etc. Mas, acabou o trabalho, ele volta para o
seu mundo esnobe e hipócrita: só faz amizade com gente bem-sucedida, com bom
nível cultural, pessoas ricas e influentes e, principalmente, comunicativas.
Usa as eternas e
convincentes desculpas do tipo “estou muito ocupado”, “não tenho tempo nem para
comer” e “não gosto de redes sociais” para não ligar, não responder e-mails,
não se reunir para fazer trabalho em grupo, não seguir no Twitter, não
adicionar no Facebook. O jornalista não se interessa pelos mais tímidos,
anônimos e até com deficiência intelectual, mas os amigos e influentes ele faz questão
de procurar. Jornalista mulher só quer se casar com homens ricos que conhece
nas baladas da vida.
Sou vítima desse tipo
de gente e de suas “desculpas” há mais de dez anos. Deveria ter me acostumado,
mas não consigo. A cada ano fico mais amargo e desconfiado. Por causa desses
hipócritas eu crio ainda mais preconceitos contra os jornalistas
preconceituosos.
*
Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance
“Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea
“Indecisos - Entre outros contos”.
Bookess - http://www.bookess.com/read/4103-indecisos-entre-outros-contos/
e
PerSe
-http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1383616386310
Seu blog, “Tudo cultural” -
www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores
Um preconceito gera outro. Somos fominhas de inteligência, sanguessugas de conhecimento e informação, então ficamos a nos perguntar quando a conversa derrapa: o que estou fazendo aqui? É por isso que muitos buscam apenas quem está acima em todos os níveis, e relegam ao último plano quem está abaixo deles.
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