Viajante de primeira viagem
* Por
Eduardo Oliveira Freire
"Fixo instantes
súbitos que trazem em si a própria morte e outros nascem – fixo os instantes de
metamorfose e é de terrível beleza a sua sequência e concomitância."
Lispector , Clarice Água Viva.
Sou mais um na
multidão ou alguém sabe meu segredo? Tento esconder minha alegria de criança
por viajar ao exterior pela primeira vez. Não quero aparentar ser bobo, tem
tanta gente que já está tão acostumada como se fosse à padaria ou ao
supermercado. Este tipo de gente é internacional, enquanto eu...
Meu lado
adulto-pretenso-informado aperta forte a mão do meu lado criança. Alguém me
olha, será que fui descoberto? Será que estou um clichê? Não quero me machucar
ao ficar idealizando uma viagem de um mês e expor minha felicidade clandestina,
sei lá, um indivíduo mal intencionado pode manipulá-la para me dominar
mentalmente.
Estou cansado de
construir castelos de nada, só desejo curtir o momento sem pretensões. Quer
saber de uma coisa? Saltarei no escuro! Se eu me foder, não tem problema. Vou
me reerguer novamente e continuar a viver.
Está na hora do avião
decolar. Será que vou morrer num ataque terrorista ou afogado pelo tsunami e se
o avião cair? Que se dane! Estou viajando para o exterior, um sonho tão antigo
desde que me entendo por gente. E mesmo estar num avião na classe econômica faz
meu coração pulsar como nunca.
Nunca mais senti isto
desde quando era menino. Devo estar com um sorriso de tolo no rosto, não vou
mais me esconder. Podem achar que sou um turista de primeira viagem, cafona e
ignorante, não me importarei mais.
Estou fruindo a emoção
de viver minha aventura particular, que só tem valor para mim. Olho para janela
do vizinho (estou no meio) está de noite e sinto um formigamento gostoso na
barriga.
Estou pronto para o
bem e para o mal. O importante que estou vivendo. Que venha o desconhecido!
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
Acabei por mergulhar em seu medo e vontade de disfarçar. Falou tão bem, Eduardo!
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