O abraço que cura
* Por
Ruleandson do Carmo
Naquele momento, eu
não precisava de mais nada. Sentimentos como a mágoa, a tristeza, a decepção e
o medo: todos eles não cabem perfeitamente num abraço. Escapam por entre os
dedos, afrouxam devagar aquele peso no coração e se vão, aos pouquinhos. Tudo
bem, pode não acontecer no exato momento em que os braços se cruzam, mas com
certeza é um belo início.
É claro que uma
notícia boa ajudaria. Uma frase explicando que não foi nada daquilo que ouvi,
que tudo não passava de um engano e que as coisas iriam, sim, dar muito certo.
Dormir e acordar mais uma vez, viver aquele dia de um jeito diferente (em que
nada de errado cruzaria o nosso cotidiano). Mas a realidade é que a vida real é
feita de momentos indesejáveis e todo caminho tem lá os seus desvios. Não dá
para fantasiar uma realidade paralela que não existe e ficar pensando em como
seria caso as coisas tomassem um rumo diferente.
Para a maioria dos
problemas, o que realmente pode funcionar é entender o momento, respeitar a dor
e buscar toda a nossa força de vontade, que está lá dentro, tímida, com muita
preguiça de sair. Para tanto, não é má ideia encontrar uma solução em todas as
forças vindas do carinho silencioso que surge quando outra pessoa nos envolve.
E não parece que o
tempo congela por alguns instantes? Começo a ouvir sons que antes não ouvia.
Presto atenção na formiga que carrega a folha, lá no chão. O vento parece ter
parado de bagunçar os meus cabelos. A luz no fim do túnel pode finalmente ser
encontrada por mim. Tem um outro jeito, dá para tentar mais uma vez. Existem
outras infinitas chances. Eu consigo ver agora.
Cada pequeno espaço
parece se preencher, como um copo, antes vazio. O volume aumenta a cada instante,
até sentir transbordar, para juntar os pedaços do que foi quebrado e deixar
recomeçar, mais uma vez. Por isso, sempre que as coisas dão errado, eu penso
que não preciso nem de um copo d’água, de um café, um conselho longo e demorado
ou um olhar de compaixão. Um abraço basta.
*
Jornalista
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