segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sinais trocados

* Por Daniel Santos

Sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Baleia aparece no Tâmisa em Londres

Londres - Uma baleia surgiu nadando nas águas do rio Tâmisa, no centro de Londres, na manhã desta sexta-feira. Os turistas nas margens do rio próximo à ponte Westminster, onde fica o Big Ben e o Parlamento, correram para observá-la, assim como as pessoas dentro das embarcações. Acredita-se que ela seja uma baleia piloto de até 6 metros de comprimento. Ela teria nadado desde o mar até o centro da cidade, ultrapassando uma barreira que controla o nível das águas na manhã desta sexta-feira. "Eu a vi lançando um jato de água", disse Tom Howard-Vyne, que trabalha na roda gigante London Eye, na margem sul do Tâmisa.

Por acaso, não foi. Quando a baleia entrou pelo Tâmisa a caminho do centro de Londres, tinha lá suas intenções. Seguia, talvez enamorada, o sonar de um desses submarinos que vão e voltam da guerra num curso, a esta altura, viciado.

Isso mesmo. Ela seguia ao encontro do amor, quem sabe o primeiro. E, no entanto, estava já velha, sem capacidade de procriar. Apesar disso, não estranhou a ventura porque, como disse o poeta, o amor chega tarde.

Ou não era amor o que a atraía? Correnteza acima, fora de seu hábitat, em água doce e infectada pelos esgotos da cidade, ela espadanava a cauda num aceno a que o amado não respondia. Por isso, avançou mais e mais e mais, na esperança de encontrá-lo. Das margens, curiosos observavam a baleia com apreensão. Sabiam todos o que ela mal pressentia: chegara ao fim!

Mas como ignorar aquele sonar que, de algum ponto indefinível, continuava emitindo laivos de irresistível enamoramento? E ela, então, prosseguiu, embora já lhe custasse respirar.

Numa das últimas vezes em que conseguiu olhar fora d’água, viu o cenário (cidade cinza, multidões aflitas, tiros de fuzil, policiais à espreita, olhares de máxima expectativa) e entendeu: tudo definhava. Como ela!

Não a atraíra o amor, mas a morte. E, sem o perceber, guiada apenas pela intuição, a baleia encontrou o cemitério onde, afinal, tombou.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.

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