Arraes em dois tempos
Por
Clóvis Campêlo
Quatro anos separam as
duas fotografias acima.
A primeira foi feita em
1994, no Pátio do Carmo, quando do comício de encerramento da campanha de
Miguel Arraes para o Governo do Estado. Pela legenda do Partido Socialista
Brasileiro, Arraes se elegeria governador com 1.262.417 votos, derrotando
Gustavo Krause, do PFL, que teve 759.786 votos. Arraes, que parecia imbatível,
tornava-se governador de Pernambuco pela terceira vez.
Os senadores eleitos
foram Carlos Wilson, então no PSDB, e Roberto Freire, do PPS. O primeiro
renunciaria ao mandato em janeiro de 2003, para assumir a presidência da
Infraero. O segundo, foi candidato a vice-presidente da República, em 1998, na
chapa de Ciro Gomes.
A segundo fotografia
foi feita na Ponte Princesa Isabel, em 1998, quando Arraes tentava se eleger
governador do Estado pela quarta vez. Desgastado pela escândalo dos
precatórios, teve apenas 744.280 votos, sofrendo uma fragorosa derrota para
Jarbas Vasconcelos, que teve a votação expressiva de 1.809.792 votos. Com a sua
campanha vitoriosa, Jarbas Vasconcelos arrastou José Jorge, do PFL, para o
Senado. Tudo indicava que o mito Arraes chegava ao fim.
Consta também que
Jarbas e seus novos aliados da direita haviam estabelecido um pacto para
governar o Estado de Pernambuco e o Recife por no mínimo 20 anos. Vale lembrar
que em 1996 Roberto Magalhães havia vencido as eleições municipais para a
Prefeitura do Recife, criando as condições adequadas para a ascensão de Jarbas
e a queda de Arraes.
No entanto, a vitória
surpreendente de João Paulo de Lima e Silva, em 2000, derrotando Magalhães que
buscava a reeleição e estabelecendo pela primeira vez um governo petista no
Recife, mostrou que esse projeto tinha fôlego curto e trouxe de volta ao
cenário político as propostas da esquerda pernambucana, que, desde então,
mantem-se no poder tanto no âmbito estadual quanto municipal.
Lembro que após a
vitória de João Paulo aqui no Recife, no segundo turno das eleições municipais
de 2000, quando todos os seus eleitores se reuniram na praça do Marco Zero para
comemorar o feito, entre as bandeiras vermelhas do PT e do PCdoB, tremulava a
bandeira azul da campanha de Arraes, em 1998. No meio do povo do Recife, no
meio da poeira levantada pela vitória que ninguém de sã consciência esperava no
início da campanha, o mito e a esperança estavam de volta.
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Poeta, jornalista e radialista
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