segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Esperando o melhor

Hoje acordei predisposto a evitar, a todo o custo, pensamentos e temas negativos. Não se trata, aviso de antemão, de nenhum súbito surto de alienação, até porque os meios de comunicação, com seu noticiário sombrio, e a função que exerço, de comunicador, não me permitem assumir essa postura. Decidi, porém, dar a mim mesmo – e a você, precioso leitor, que me privilegia com sua honrosa leitura – apenas uma trégua. A empreender momentânea fuga do lado feio da realidade e atentar para seu aspecto benigno e agradável, que ela também tem, mas ao qual raramente atentamos. Estamos condicionados, intoxicados, viciados em negativismo face ao que estamos continuamente expostos.

Mas hoje não quero, e nem vou escrever sobre tema árduo, tenso, negativo, ruim. Evitarei abordar crises, violência, taras e desvios de conduta que, gostemos ou não, se constituem em matérias-primas de uns 80% ou mais da Literatura. Essa decisão me lembra a conduta que adotava com freqüência em uma empresa em que trabalhei, há já algumas décadas. Tínhamos reuniões periódicas para debater problemas de trabalho, complexos e urgentes, que nos mantinham durante longas horas em estado de desgastante e desagradável tensão. Era terrível!

Eram comuns debates acalorados, em que muitos de nós ficávamos exasperados, à beira de um ataque de nervos, em decorrência da oposição (lícita, por sinal) que alguns dos colegas faziam às “soluções” que propúnhamos, não raro até óbvias, posto que não consensuais. Afinal, como diz o surrado, porém pertinente clichê, “em cada cabeça há uma sentença”. E como há!

Naquele tempo ainda não havia o veto (oportuníssimo) que há atualmente ao ato de fumar em ambientes fechados. Essas reuniões tinham como participantes entre oito a dez pessoas, todas chefes de suas respectivas seções. Éramos todos fumantes. Havia quem fumasse um charuto fedorento, que empesteava o ambiente e nos sufocava. Quando esses encontros terminavam, havia dez cinzeiros com pirâmides imensas dos restos desse veneno derramando-se nas bordas: cinzas e muitas, muitíssimas pontas de cigarro, mal cheirosas e insanas. Imaginem como era o ar que circulava naquela sala relativamente pequena e sem janelas. Havia uma cortina de fumaça tão densa que, exagerando um pouco (mas não muito), dava até para ser cortada com uma tesoura. Era um horror!

Como ninguém é de ferro, tínhamos, após duas horas de intensas discussões, quinze minutos de pausa. Alguns, iam à copa da empresa para se dopar de cafeína, que estimulava ainda mais o consumo de nicotina. Outros se dirigiam ao sanitário, sem interromper, contudo, os debates que os empolgavam. Contígua à sala de reuniões, porém, a empresa tinha bem cuidado jardim, com vários canteiros de flores e algumas árvores, com banquinhos debaixo delas. Esse era, invariavelmente, meu destino – à exceção dos dias de chuva.

Ali, eu aproveitava as pausas para “limpar a mente”, para não pensar em nada, mas apenas respirar ar puro, contemplar as flores, ouvir a algazarra dos pássaros, em suma, para recarregar as baterias mentais, nesse breve, porém eficaz contato com a natureza. E a estratégia funcionava. De regresso à reunião, era tiro e queda.

Invariavelmente, era eu que apresentava as soluções, finalmente adotadas, para os problemas que nos exigiam tantas discussões e tensão. Não, leitor, não sou nenhum gênio e muito menos um poço de sabedoria. Era, porém, o “único” a aproveitar, de maneira racional, os intervalos. Limitava-me, tão somente, a dar oportunidade ao subconsciente de atuar. E ele atuava. Vislumbrava as soluções que estavam diante dos olhos de todos, mas que ninguém enxergava. Muito menos eu, diga-se de passagem, antes dos intervalos das reuniões. Firmei prestígio na empresa por causa disso e obtive várias promoções.

Essa pausa benfazeja funciona, também, em nosso cotidiano (a menos que a encrenca em que nos tenhamos metido seja de tal sorte que não tenha saída positiva). A vida ensinou-me (não raro de maneira dramática, severa e até dolorosa) que não existe problema sem solução. Às vezes (aliás, muito frequentemente), esta não é a que desejávamos e que nos seria benigna. Mas, em boa parte das vezes, quando damos trégua à tensão, quando “limpamos” a mente e quando deixamos o subconsciente agir, esta se mostra tão simples e direta que chegamos a sentir raiva por não a havermos percebido antes, de imediato, poupando tanto desgaste e sofrimento.

A vida é muito mais simples do que ousamos admitir. Nós é que a complicamos, com nossos medos, preconceitos e, sobretudo, pessimismo. Esperamos o pior – de nós mesmos e principalmente dos outros – e essas expectativas são tão intensas e recorrentes, que ele, de fato, acontece. A esperança tende a ser, metaforicamente, “faca de dois gumes”. Se for voltada para o factível, o viável, o realizável e acima de tudo o positivo, multiplica nossas forças (físicas e/ou mentais), e o que era esperado se realiza, não raro de forma muito melhor do que eram nossas expectativas. Caso contrário... É inesgotável fonte de decepções, angústias, frustrações e sofrimentos. Pense nisso.

Boa leitura.

O Editor.


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3 comentários:

  1. Eu tenho esperado o melhor e tenho trabalhado este pensamento positivo, mudando minhas atitudes e meu olhar.

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  2. Assim devemos agir, não obstante, para termos melhor qualidade de vida, em todos os sentidos.

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  3. Esvaziar a mente é um exercício que compensa, mas exige muita prática. Aos viciados em trabalho, até mesmo uma caminhada na praia é pretexto para planejar todo próximo ano de trabalho. E nas férias. Isso é loucura. Aprovo a sua ideia, Pedro.

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