terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Desperdício do essencial

A humanidade desperdiça entre 30% e até 70% dos alimentos produzidos no mundo, sendo que a média da comida que vai parar no lixo, sem que ninguém a consuma, é de 50%. Ou seja, entre 1,2 bilhão e 2 bilhões de toneladas de preciosos e indispensáveis nutrientes são, simplesmente, jogados fora, sem trazer benefícios para ninguém, a cada ano que passa. Essa constatação não é minha. Não se trata, portanto, de nenhum chute. Foi feita pela “Institution of Mechanical Engineers” do Reino Unido, num meticuloso estudo publicado por estes dias, intitulado “Global Food: Waste not, Want not” (“Alimentos Globais: Não desperdice, Não queira”) divulgado recentemente pelo portal UOL.

Já teci alguns comentários a propósito, mas o tema, por sua relevância, exige maiores considerações (e, sobretudo, reflexões), mesmo que resumidamente. O desperdício de alimentos, por si só, já é gravíssimo, quando se sabe que milhões de pessoas (quiçá bilhões) passam fome, pelo mundo afora ou se alimentam inadequadamente, apresentando, por isso, quadros de desnutrição (em alguns casos, agudos e bastante severos) ou de subnutrição. Essa carência alimentar é causa de inúmeras doenças, agravando ainda mais os prejuízos, dados os custos dos respectivos tratamentos, em hospitais na maioria públicos, desaparelhados, carentes e superlotados, notadamente nos países subdesenvolvidos, em que o problema é mais grave, tanto em quantidade quanto em gravidade.

Mas o desperdício de alimentos está longe de ser um prejuízo isolado. São perdidos, também, outros tantos recursos, preciosíssimos, e cada vez mais escassos, num Planeta cuja população não pára de crescer, principalmente a água, a energia e, também, áreas para a agricultura, cujos solos se degradam rapidamente face o contínuo plantio, mas sem o retorno pretendido. Metade do que se planta neles é, simplesmente, jogada fora.

Tim Fox, diretor da instituição responsável pelo estudo, observa: “Isto é comida que poderia ser utilizada para alimentar a crescente população mundial, além daqueles que atualmente passam fome”. Poderia, sem dúvida. Mas não é. O relatório alertou que, atualmente, 550 bilhões de metros cúbicos de água são desperdiçados na produção dessa comida que vai parar no lixo.

A questão a ser encarada não é sequer a econômica (embora essas perdas impliquem em imensos prejuízos financeiros, arcados pelo consumidor, ou seja, por todos nós, já que tais custos são incorporados aos preços finais dos alimentos que adquirimos). O principal problema, no caso, refere-se ao crescente esgotamento do bem mais precioso que o homem dispõe, sem o qual a vida é impossível: a água potável.

As reservas dessa substância tão essencial, decrescem com rapidez assustadora. Isso acontece ou em decorrência do aquecimento global, ou por causa da absurda poluição de rios, lagos e fontes, ou, principalmente, por desperdício. Pelo fato das suas reservas serem relativamente escassas (6% do total, dos quais 4% concentram-se nos pólos, em, suas geleiras eternas), o aumento do consumo é preocupante, e com razão. De acordo com o estudo da instituição inglesa, a demanda por água potável, em 2050, chegará a 13 trilhões de metros cúbicos por ano, principalmente por causa do crescimento da demanda por alimentos por causa da superpopulação. E pensar que metade dessa comida, que para ser produzida consome tanto desse líquido essencial à subsistência humana, vai, simplesmente, parar no lixo!!

Para que o leitor entenda o que significam essas projeções de aumento de consumo para os próximos 37 anos, basta dizer que elas representam 3,5 vezes mais do que a totalidade de água potável consumida atualmente pela humanidade. Tim Fox aponta algumas das causas desse absurdo desperdício de elementos tão essenciais à sobrevivência humana: “As razões desta situação variam das técnicas insatisfatórias de engenharia e agricultura à infraestrutura inadequada de transporte e armazenamento, passando pela exigência feita pelos supermercados de que os produtos sejam visualmente perfeitos e pelas promoções de ‘compre um e leve outro grátis’ que incentivam os consumidores a levar para a casa mais do que precisam”.

O estudo não leva em conta as perdas de alimentos decorrentes das “sobras” em cada refeição na mesa dos que os compram e consomem. Esses restos de comida que sobram no prato, no almoço e no jantar, de nossas casas, de cada membro da família, a que não damos a menor importância, são muito relevantes. Somados, alcançam, em média, um porcentual estimado de 20% da produção anual de alimentos no mundo! E esse desperdício pode ser ainda muito maior se levarmos em conta o que se desperdiça em milhões de restaurantes através do Planeta.

Daí ser contestável a afirmação de que não há riscos de uma até impensável “epidemia” de forme mundial, em decorrência da superpopulação, já que a produção de alimentos é muito mais do que suficiente para alimentar a totalidade das pessoas da Terra. Produzir, até que se produz de fato (pelo menos até aqui). Mas...é aterrador pensar que 70% dessa copiosa produção (50% perdida pelos produtores e 20% pelos consumidores) jamais chega à boca dos que dela precisam e dependem dela para sobreviver.

Boa leitura.

O Editor.

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