domingo, 20 de janeiro de 2013

De volta à origem

* Por Pablo Neruda

Eu sou este desnudo
mineral:
eco do subterrâneo.
Estou alegre
de vir de tão longe,
de tão terra.
Último sou, apenas
vísceras, corpos, mãos
que se separaram sem saber porque
da rocha materna,
sem esperança de permanecer,
destinado ao humano transitório,
a viver e despojar-se.

Ah esse destino
da perpetuidade obscurecida
do próprio ser – granito sem estátua,
matéria pura, irredutível, fria.
Pedra fui: pedra obscura
e foi violenta a separação,
uma ferida em meu casual nascimento.
Quero voltar
áquela certeza,
ao descanso central, à matriz
de pedra materna,
de onde não sei como nem sei quando
me desprenderam para desagregar-me.


* Poeta chileno, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura

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