* Por Mara Narciso
A grandeza da compositora Chiquinha Gonzaga resultou numa mini-série da Rede Globo, diversos livros biográficos, assim como inúmeros CDs. A nossa grande maestrina, segundo a pianista Talitha Peres, é a maior compositora de música popular brasileira de todos os tempos. Como mostra a sua história, era muito avançada para a sua época, vivendo como se vive hoje em termos de trabalho noturno, festas, viagens, paixões, amores, filhos e separações. Como desbravadora em todos os sentidos, abriu caminho para a liberdade feminina de eras futuras. A escritora Edinha Diniz, no livro “Chiquinha Gonzaga, uma história de vida” diz que fez “o relato da vida de uma mulher incomum, audaciosa, pioneira, talentosa e com uma enorme determinação de vontade”. E se justifica: “A antecipação com que ousou a liberdade pessoal faz dela a primeira grande personagem na história do Brasil a não ser uma heroína no sentido oficial; não estava a serviço da pátria, nem da humanidade, nem de um marido. Estava apenas a serviço de si mesma, de suas vontades e desejos. Só que isto não era permitido a uma mulher”.
Quando se ouve as suas músicas, logo se admira o seu talento, e especialmente quando se conhece a vida da compositora, nascida em 1847 e falecida em 1935, o entusiasmo é ainda maior diante da sua obra. Vibrar foi o verbo mais conjugado durante a apresentação de “Estações Musicais na Unimontes, Concerto Chiquinha Gonzaga em Noite de Gala”. Foi no dia 30 de maio, no Automóvel Clube de Montes Claros, com entrada franca.
Marcado para as 19h30min, antes disso o público já se acotovelava no saguão de entrada, ávido para adentrar ao clube. Mal as escadas foram liberadas e a turma invadiu o salão, e em minutos tudo estava tomado. Desde as escadas já se via, como recepcionistas, homens e mulheres vestidos a caráter. Um coquetel era servido pelo aniversário da Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes, que faz meio século de existência. O público estava interessado e buliçoso, até ruidoso, em vista da ansiedade e pouco hábito de assistir a um espetáculo como este. Não era, mas parecia ser a primeira vez. Todas as cadeiras foram ocupadas, e algumas pessoas assistiram ao concerto em pé.
Havia centenas de pessoas. O palco foi decorado e iluminado de acordo com a época, com os quatro músicos e alguns manequins paramentados conforme o tempo de Chiquinha Gonzaga. A maioria usava chapéus. À direita a pianista Talitha Peres comandava o espetáculo, após o cerimonial fazer as devidas apresentações. A programação foi distribuída e um telão mostrava a sequência das atrações. Os figurinos, danças e cantos estavam a cargo do Setor de Artes da Unimontes.
Após tocar quatro composições instrumentais, foi apresentada uma música cantada e então foi se diversificando e seduzindo a platéia que ficou ainda mais atenta, principalmente quando foram apresentados os números de dança do Grupo de Danças Compassos. Um dos casais mostrou uma dança de salão que deve ter escandalizado os brasileiros de então. Graciosos e a moça toda faceira, transportavam a audiência ao mundo do começo do século passado através do som extraído com graça por Talitha Peres, que interpreta e quase vive a nossa maestrina maior. Também esteve em cena o Grupo de Seresta Idade da Prata apresentando “Lua branca”, cantada também alegremente pelo público. Havia alternância entre música cantada e música dançada, e até por isso levou a uma maior participação das pessoas.
A intérprete escolheu as melodias mais empolgantes e dançantes, entre tangos e polcas, para melhor mexer com o público. A resposta foram palmas entusiasmadas. As quatro danças apresentadas foram o que mais agradou o público. O elenco foi chamado e em seguida o grande final, com a canção mais conhecida de Chiquinha Gonzaga, a nossa primeira marchinha carnavalesca: “Ó Abre Alas”, que fechou o concerto. Nesse momento, houve maior integração entre elenco e público, que cantou, dançou e interagiu recebendo com empolgação a chuva de confete e serpentina. Sorrindo e brincando com os presentes, os dançarinos desceram e dançaram com o público. A platéia, encantada com a belíssima apresentação de Talitha Peres, batia palmas para ambas, concertista e Chiquinha Gonzaga. A finalização apoteótica diante da casa lotada desencadeou um quase Carnaval, enquanto pessoas corriam a comprar o CD com as músicas recém-apresentadas, e tomar o café servido na saída.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade” – blog http://www.teclai.com.br/
Gosto dos seus relatos porque eles me conduzem a acontecimentos ou épocas que eu gostaria de ter presenciado e vivido... Chiquinha Gonzaga está nítida na memória através da mini-série Global, e com essa ajuda, minha imaginação fluiu deliciosamente...
ResponderExcluirAbraços.
Obrigada pela delicadeza da passagem e do comentário, Marleuza.
ExcluirChiquinha Gonzaga,grande diva da música, do samba e do nosso carnaval. Parabéns pelo belo texto, resgatando-nos a memória dela. Ó Abre Alas, inesquecível !
ResponderExcluirChiquinha tinha, de fato, um talento inquestionável, Edir. Obrigada pelo comentário.
ExcluirGrande Chiquinha Gonzaga. Além de precursora e influenciadora do que hoje se denomina MPB, sua história de vida a transformou numa espécie de ícone feminista. Excelente, Mara. Gostei demais! Um beijo e bom feriado.
ResponderExcluirEssas mulheres loucas para sua época abriram os caminhos para nós que aqui estamos livres para pensar. Caso nascesse hoje, ela não sofreria as perseguições das quais foi vítima, mas dependendo do país, na sua época, Chiquinha Gonzaga teria sido morta por apedrejamento. E nós perderíamos a sua música. Obrigada, Marcelo.
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