sábado, 7 de abril de 2012







O morcego

* Por Augusto dos Anjos

Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede...”
--- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho.
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforço faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto!!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

• Poeta e professor paraibano

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