sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010




Plantando arroz

* Por Renato Manjatera

Eu queria arroz. E decidi ir atrás do meu objetivo. Comprei a melhor terra que tinha para plantar arroz, fiz análise do solo e preparei-o mais ainda para o plantio do arroz. Comprei também implementos para plantar e pra colher arroz, da última geração.

Até água boa para arroz eu comprei. Quando a lua entrou na fase boa para o cultivo do arroz, fui comprar as sementes. Não tinha semente de arroz, mas tinha de feijão. Eu comprei então sementes de feijão.

Não tinha semente de arroz, só por isso eu comprei sementes de feijão. Mas só as sementes eram de feijão. O restante, a terra, o adubo, o arado, a colhedeira, a água era tudo de arroz.

Aí eu plantei como se planta arroz, pois tudo era de arroz, exceto as sementes. As sementes, só mesmo as sementes, eram de feijão. Pois é. Dá para acreditar que nasceu feijão?!

* Jornalista e escritor, Autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com






Insegurança

* Por Rodrigo Ramazzini

- Foi bom?

Depois de quatro meses separados, resolveram dar uma nova chance ao amor. Reataram. Namoraram durante seis anos até o rompimento, que fora motivado após mais uma briga originada pelo ciúme e insegurança de Rômulo. Ele prometeu mudar depois de muito insistir no retomada do namoro. Juliana resolveu lhe dar mais uma chance. “A última”, sentenciou. Ainda deitados na cama, entrelaçados e suados, após transaram, enquanto Juliana acendia um cigarro, Rômulo questionou:
- Foi bom pra ti? Como nos velhos tempos?
- Não vai começar...
- Não! Não é isso! Só queria saber se continuo em forma...
- Sei...
- Sério!
- Tá bom! Vou fingir que acredito...
- Neste período que tivemos afastados, só pensava em ti!
- Há! Há! Há! Eu vi... Eu vi aquele dia com a morena naquele bar na Cidade Baixa...
- Era só para te fazer ciúme! Foram apenas beijinhos. Não passou disso. Vai dizer que não ficaste com ninguém, não beijaste alguém nos últimos quatros meses?

Silêncio.
- Hã... Hã... Claro!
- Então, por que estás me cobrando?
- Não estou te cobrando, Rômulo. Estou apenas constatando...

Silêncio.
- Foram muitos?
- O que isso importa?
- Curiosidade, apenas.
- Sei lá! Não contei.
- Sei...
- O importante é que estou aqui contigo. Não achas?
- É... É... Alguém conhecido?
- Vai começar?
- Não! Não! Só achava interessante saber.
- Por quê?
- Porque... Porque sei lá! Tipo: vai que estou no mesmo lugar que o cara. Ele é nosso amigo, talvez. Não sei! Daí, pelo menos, não vai ficar todo mundo me olhando e eu com “aquela cara” de último a saber...
- E fazer uma enorme cena de ciúmes?
- Claro que não! Não prometi mudar?
- Prometeu.
- Então...

Silencio.
- Então, tem alguém conhecido?
- Não começa, Rômulo!
- Não quer falar, não fala... Tudo bem!

Silêncio.
- Tu não ficaste com o Maurinho, né?
- Hã... Hã... E se fiquei?
- Putz! Eu não acredito, Juliana!
- Viu? Por isso que eu não queria falar nada...
- Que mau gosto! Meu Deus!
- Por quê?
- Por que sim!
- Ele era teu amigo?
- Era... Era... Disse bem! Por isso que ele estava estranho comigo... Distante... Agora, entendi!
- Pode ser...
- Onde foi?
- Mês passado. No show da Banda “Do You Like?”
- Sei... Não fui... O pessoal estava todo lá?
- Estava...
- Sei... Sei... Representou alguma coisa pra ti?
- Claro que não! Agora chega! Chega... Não quero mais falar neste assunto. Aliás, tu prometeste que não teria mais essas crises de ciúmes...

Silêncio.
- Tá certo! Não vamos mais falar no assunto...

Silêncio.
- Uma última pergunta: não passou de uns beijinhos, né?
- Não... Mas e se tivesse passado disso? Qual o problema?

Silêncio. Maurinho, então, pensa:
- Ufa! Ainda bem... Assim não corro o risco... Risco?!... Será... Será que ele é melhor que eu na cama?

* Jornalista






A entrevista

* Por Eduardo Oliveira Freire

Quando enviaram por e-mail, pela primeira vez, algumas perguntas sobre sua vida, ficou sem saber o que dizer. Começou a pesquisar pela internet alguns discursos, a cortar e colar algumas palavras chaves. A partir das palavras alheias, construiu um personagem para si mesmo. Depois de responder as perguntas, enviou-as. Entretanto, sentiu-se vazio...

“ Sou algo em mutação. Há muito tempo, surgi como uma ideia de duas pessoas; depois, tornei-me um ovo fecundado. Quando fui parido, era uma bolinha de carne e um receptáculo para um caldo ancestral de cultura. Numa idade, que não sei definir direito, iniciei os meus primeiros pensamentos, marcando assim meu terceiro nascimento. Aliás, não nasci, estou nascendo. Sou um indivíduo que escreve para extravasar sentimentos, materializar imagens e histórias que povoam tanto meu consciente quanto meu inconsciente.

Nasci no Rio de Janeiro, mas me sinto estrangeiro, pois sou muito diferente do imaginário construído sobre o carioca. Às vezes, sinto-me a-histórico, pois me relaciono com os fatos de uma maneira particular. Quando vejo uma estátua, eu a agrego aos meus sonhos e imaginação, não procuro saber o valor histórico e oficial que ela representa.

As ruas e as esquinas da cidade possuem significados muito individuais para mim. Alienação! Será? ou uma forma de ver as coisas? A minha biografia não tem histórias interessantes, sou uma mistura de impressões. Vejo-me como uma coisa sem forma que degusta tudo que vê pela frente... Quer saber de uma coisa, chega de pensar bobagens. Estou sem inspiração para escrever; recorto e colo trechos de textos que escrevi há muito tempo. Vou tomar banho de mangueira, não tenho dinheiro para ir à praia”.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


Leia nesta edição:

Editorial – A originalidade possível

Coluna Contradições e paradoxos – Marcelo Sguassábia, conto “Com vocês, Walderley Camargo”.

Coluna Aventuras em Paradoxo – Fernando Yanmar Narciso, crônica “Minha segunda casa não é mais aquela”

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, crônica “Estranha idiossincrasia”..

Coluna Do Fantástico ao trivial – Gustavo do Carmo, conto “Difícil talento - IX”.

Coluna Porta Aberta – José Calvino de Andrade Lima, artigo “Pernambuco mostra como se luta pela terra”.

Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.


A originalidade possível

Caríssimos leitores, boa tarde.
Os artistas – não importa qual seja a sua arte, seu local de origem ou tempo em que viveram – têm, desde os primórdios da civilização, uma obsessão que os acompanha a vida toda. Perseguem, obstinada e incansavelmente, um “tosão de ouro” (como os argonautas da mitologia grega), um “santo graal” (como os cavaleiros da tavola redonda), que é a originalidade.
Na impossibilidade de escolherem temas que ninguém jamais abordou, procuram ângulos novos, detalhes inusitados, nuances e minúcias de assuntos batidos, mas que entendem nunca antes terem sido explorados. E por melhores que suas obras venham a ser, frustram-se nesse aspecto, que julgam fundamental.
Claro que não declaram sua frustração publicamente e não saem por aí confessando que fracassaram. Carregam consigo, vida afora, como um estigma de fracasso, essa decepção íntima, mesmo que sejam bem-sucedidos em todos os aspectos. Nunca se sentem assim. A insatisfação é o seu paradigma.
É possível o artista e – particularizando mais a questão – o escritor serem originais, tendo em conta os milhões e milhões de livros escritos tempo e mundo afora? O filósofo Will Durant entende que não, embora abra duas exceções (com as quais sou induzido a concordar). Afirma, no clássico “Filosofia da vida”: “Todas as verdades são velhas e só os poetas e loucos podem ser originais”. Ambos, aliás, guardam estreitíssima relação. E não têm o menor pudor em dizer (e escrever) o que aos mortais comuns soe como disparates, tolices, esquisitices, nonsenses, estapafurdices e absurdos.
Vejam o caso do amor. Quanto já se escreveu, escreve e escreverá sobre esse tema, tempo e mundo afora? Tanto que é impossível não apenas contabilizar a quantidade de textos, mas até de se estimar com razoável margem de precisão quantos foram. Neste preciso instante, com certeza, milhares de escritores estão escrevendo sobre o assunto, nos mais de 20 mil idiomas e dialetos existentes e nos 204 países que compõem o que se convencionou chamar de “humanidade”.
“Não é possível que com toda essa abrangência nenhum desses homens de letras não seja original”, ponderará, com certeza, o incrédulo leitor, levando em conta esse incontabilizávl universo de romancistas, contistas, cronistas, ensaístas e novelistas. Mas, de fato, são? Nem é preciso conferir e comprovar (o que, ademais, seria impossível), para garantir que não.
Por que? Porque, por mais subjetivo que o escritor possa ser, no fundo, no fundo, foi condicionado a ser, sobretudo, objetivo. Sem essa objetividade, não terá editor, leitor e, em suma, nem será literato. Ademais, o amor é subjetivo. Racionalizado, não passa de mero ato mecânico, voltado basicamente à cópula e, portanto, à procriação. Vai daí... que todas as verdades, (ditas e escritas) sobre esse sentimento são velhas. “Só os poetas e os loucos podem ser originais” a respeito.
Desde que o homem começou a raciocinar – e ninguém tem a menor noção de quando foi – inquire, imagina, especula e reflete sobre as três questões essenciais a nosso propósito que ninguém conseguiu, ainda, responder racional e indubitavelmente: o que sou? De onde venho? Para onde vou?
Embora haja variações quase infinitas na forma de expressão das tentativas de respostas, estas, invariavelmente, se repetem no conteúdo, posto que por palavras e argumentos diversos. Querem originalidade a esse propósito? Não a busquem em filósofos, antropólogos, biólogos, romancistas, contistas e novelistas. Não a busquem, pois não a encontrarão. Afinal, “só os poetas e os loucos podem ser originais”.
Por mais que o instinto de sobrevivência induza, posto que em intensidades variáveis, todas as pessoas a lutarem contra a efemeridade humana, sua fragilidade física e, consequentemente, seu aniquilamento, elas não se mostram eficazes, constantes e nem originais nessas batalhas. Há, porém, duas exceções: os médicos e os poetas. Todavia, faz-se necessário que o mesmo indivíduo ostente essa dupla condição. Por que?
O jornalista David Nasser responde: “Médico e poeta – simboliza nessa dupla condição, o inimigo jurado e ativo de qualquer aniquilamento humano. O que não realiza a complexidade seca de um diagnóstico, realiza-o muitas vezes a singeleza de um verso”.
Você, escritor amigo, anda à procura da originalidade? Busca algum tema que ninguém, em tempo algum, jamais abordou? Acha que já encontrou algum no “escaninho” da imaginação? Esqueça! Se teimar certamente irá se frustrar.
A menos, é claro, que você seja poeta, ou, na pior das hipóteses, louco Mas, neste último caso, não será, jamais, levado a sério. “Só os poetas e os loucos conseguem ser originais”, acredite. Não sou eu que digo, mas um dos mais reputados, respeitados e originais (?) filósofos do século XX.

Boa leitura.

O Editor.






Com vocês, Walderley Camargo

* Por Marcelo Sguassábia

- Walderley Camargo é WC. Só podia dar merda...
- Do jeito que você fala, parece que a culpa é só minha. Se tem um culpado nessa história é o Dezão da rádio. Ele jurou que o besta era um arrasa-quarteirão, que juntava 20, 30 mil na praça facinho e sem propaganda nenhuma.
- E o cara, além de não vender ingresso, ainda pendurou um monte de despesas no nosso nome. Era tudo o que a gente precisava, começar o ano na lista do Serasa. O pior é a desproporção – os extras dão quase quatro vezes o valor dos cachês.
- É, mas isso não tem jeito, estava no contrato. A gente sabia desde o começo que era R$ 750 do cachê do Walderley, R$ 230 dos músicos mais as despesas de hotel e alimentação.
- Fora o pedágio, que de Presidente Epitácio até aqui deu mais do que a bilheteria toda. Tamo na roça, mano. E tem o aluguel do ginásio de esportes, mais 12 copinhos de água Prata, mais uma caixinha de tic-tac, mais uma dose de Fernet com mel, mais cinco marmitex do Skinão da Costela... de onde é que vai sair o dinheiro?
- Estaria bom se a coisa parasse por aí. Diz que o Walderley levou uma diarista pra dentro da Variant dele e fez o serviço na pobre, assim que acabou o show. Agora a mulher anda dizendo que está grávida e que assim que a criança nascer vai fazer o exame de paternidade pra provar que o Wal é o pai dela.
- Perda de tempo. Vai exigir o que daquele sujeito? Alguém tem que falar pra ela que metade de nada é nada...
- Negócio tá sério, Mano. Daqui a pouco chega intimação do delegado no escritório, decerto a gente vai ter que depor sobre o caso.
- Walderley Camargo, clone do Wanderley Cardoso... onde é que a gente estava com a cabeça, meu Deus do céu? Até o Lindomar Castilho Cover era melhor que isso.
- A gente quase escolheu o show do Herondilson, lembra? Primo-irmão do Herondi, aquele da dupla.
- Então, mas ainda se a Jane viesse junto. Ou a prima-irmã dela, que fosse. Ficava o parzinho, né.
- Mas foi aí que a gente se ferrou. Miopia de marketing, mano. Olha só: Wanderley Cardoso, Lindomar Castilho, Jane & Herondi, esse povo aí tá animando baile no retiro dos artistas. Quem curtiu essa turma é tudo vovó, que não sai mais de casa por causa do reumatismo. Por isso é que estava baratinho. Vai ver quanto é que custa a Ivete Sangalo, vai lá ver...
- O jeito vai ser passar o mico pra frente. Apareceu credor a gente manda pro Dezão, não foi ele que fez a gente trazer esse bosta pra cá?
- E com certeza ainda levou bola do cara. Dos setecentos e cinquenta do cachê, uns quinzinho o Walderley separou pra ele.
- Daí pra mais.
- É, daí pra mais.
- Da próxima vez, se houver próxima, a gente tem que investir na certeza. Eu por mim trazia o “Indicador”. É tudo ao vivo, não tem nada de playback, e os caras ainda trazem umas quinze menininhas de perna de fora, mais gelo seco, canhão de luz igual o do Orlando Orfei, globo espelhado. Superprodução, mano, até ônibus os caras têm.
- Tá vendo só, se deixa você já apronta outra besteira. “Indicador”, o cover do “Polegar”? Tenha dó, meu. Eu vou interditar você, mano, você solto na praça é uma ameaça à economia popular.
- Mas esse não tem erro, vai por mim. E com a grana que der a gente cobre o prejú do Walderley. Aí pronto, a coisa entra no eixo de novo. Melhor negócio que isso, só abrindo um xerox do lado do Fórum. Heim, que me diz, heim???

* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”






Minha segunda casa não é mais aquela

* Por Fernando Yanmar Narciso

Todo mundo tem aquele cantinho especial, um lugar com valor sentimental para onde se pode fugir e abrir mão de todas as agruras do dia-a-dia. Meu Rosebud, meu eldorado é, foi e sempre será a cidade de Belo Horizonte. Desde os quatro anos, só de pronunciarem perto de mim a sílaba “be...”, já vou correndo fazer as malas. Para um cara que mora numa cidadezinha pequena, razoavelmente atrasada e fervilhante como Montes Claros, ir a um lugar como BH é como passar de um Fusquinha 1968 para uma Maserati conversível.

Sempre que há uma oportunidade como um curso de medicina pra minha mãe, uma consulta médica ou simplesmente férias e feriados, eu dou um jeito de convencer meus pais a me levarem junto. Claro que, com a separação, essas viagens ficaram menos constantes, mas ainda ocorrem. Neste ano as coisas foram meio difíceis pra todo mundo, tanto que meu pai nem mesmo quis comprar passagens de avião para irmos passar as festas de fim de ano com a família dele em Natal-RN. Mesmo assim, apesar de já ser um marmanjo de 25 anos, que poderia muito bem ter ido sozinho, consegui convencê-lo a me levar de carro.

A viagem daqui até BH é mais ou menos curta, com a estrada podendo ser desbravada em no máximo 5 horas. Mas não dessa vez. Com as obras de recuperação da BR 135 bem atrasadas, em um ponto interditado entre Bocaiúva e Curvelo os veículos que estão indo precisam esperar passar os que estão voltando. E, como esse trecho tem perto de 20 km de extensão, tome chá de cadeira! Somadas essa parada, mais outras três, menores, foram acrescentadas mais duas horas na viagem. Há malas que vêm de Belém como diria meu avô Silveira. Se não tivesse tido essa parada, não teríamos comprado a estrela dessa viagem: um CD pirata da mais fina flor do brega dos anos 70. Minha mãe iria amar...

E quando achávamos que não haveria mais contratempos na viagem, eis que nós fomos surpreendidos por uma formidável tempestade, a maior que eu já vi até hoje. Parecia até uma cena do filme 2012. Raios caiam a um palmo dos carros, as rodas pelejavam contra as leis da física para não aquaplanarem, a água escarrava com tanta força que não dava pra enxergar nada adiante num raio de 20 metros. Uma verdadeira aventura de meia hora!

Passados todos os contratempos, enfim chegamos à BH com 2 horas de atraso. Mas, a segunda casa na qual eu cresci correndo, comendo e comprando já não lembra em nada meu Rosebud de infância. Tudo radicalmente mudado, mas ainda assim familiar. O trânsito só não é o pior de todos porque São Paulo ainda existe. Levamos meia hora para dar a volta completa e conseguir entrar no BH Shopping-e olha que nem era a hora do rush.

Para mim e meus pais, o BH Shopping sempre será o melhor shopping center já construído. Entro e saio dele desde quando ele tinha só dois andares, um par de escadas rolantes e uma única praça de alimentação com O Pizzaiolo, Pizza Hut, Top Grill, Kid Batata, Mcdonald’s e Bang Bang Burger. Mas, como a ganância e a explosão demográfica não têm fim, agora ele é um estacionamento gigante e coberto de quatro andares com um shopping enorme no meio. As 142 lojas originais deram lugar a mais de 300 que nem eu nem meu pai nunca ouvimos falar, e tudo custando os olhos da cara, pra variar. Ainda é o mesmo shopping, no mesmo lugar, mas ao mesmo tempo não o é.

Basicamente sigo à risca meu programa de passeio quando vou lá: Livrarias nos shoppings, lojas de brinquedos, hipermercados, shopping da muamba e, ocasionalmente, algum restaurante de fast food.

Costumava ser uma tradição minha passar o fim de semana inteiro me alimentando só de fast food em BH. Noutros tempos eu voltava para minha cidade 1 kg mais gordo só de McDonald’s e Burger King, mas nessa e nas últimas vezes não cheguei nem perto de nenhum sanduba. Deve ser o bom senso da maioridade... NOT!

Depois de uma tarde e uma manhã batendo perna pelo centro da cidade e torrando dinheiro, fomos visitar tia Carla, e com Ivair, seu marido e minha prima Maria Fernanda, voltamos ao BH Shopping para deixar os bolsos ainda mais vazios.

Após nos despedirmos, aproveitamos o embalo e fomos ao shopping da alta roda da cidade, o Diamond Mall. Esse sim, nos surpreendeu pelo tanto que tinha mudado. Sequer podíamos dizer se estávamos indo ou vindo dentro dele! Infelizmente, na saída fomos surpreendidos novamente pela mãe Natureza, que nos ilhou com uma tempestade monstruosa no estacionamento do terraço, que chegou a arrebentar o teto de acrílico do shopping.

Na manhã de Domingo, papai enfim conseguiu encontrar bens de consumo que lhe interessaram e não voltou pra casa de mãos abanando. E assim, recém-chegado aos meus aposentos e com o sentimento que a viagem ainda não acabou, regresso feliz e revigorado à minha rotininha.

Aaaaaah, meu amado “Belzônti...”

* Fernando Yanmar Narciso, 25 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
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