terça-feira, 2 de outubro de 2018

Editorial - A adoção de pseudônimo


A adoção de pseudônimo



A adoção de um pseudônimo, a pretexto de que o nome com que a pessoa foi registrada é complicado, ou não sonoro, ou de difícil memorização, ou por outro motivo qualquer, é questão controvertida, contudo considerada normal. É uma opção pessoal e não condeno e nem critico quem faz isso. Da minha parte... não faria, como nunca fiz isso. Já escrevi a propósito, mas não há mal algum em reiterar.

Quando iniciei minha carreira no rádio, lá pelos idos de 1961, sugeriram-me que adotasse um pseudônimo. Argumentaram que Pedro Bondaczuk era um nome complicado de se pronunciar e, principalmente, de se memorizar. Recusei. Sempre gostei da forma como fui registrado e jamais me passou. sequer remotamente, pela cabeça mudá-la. No princípio, outros locutores se enrolavam todos quando tinham que me anunciar. Os ouvintes também. Com o tempo, todavia, todos se acostumaram e meu nome de batismo acabou se revelando tão útil e comum, como o mais criativo dos pseudônimos.

Não defendo e nem me oponho, todavia, a quem resolve querer ficar conhecido por outra denominação, que não a que seus pais lhe atribuíram. Cada qual sabe onde o sapato lhe aperta o pé. Só reitero que eu nunca fiz isso e jamais faria. Não vejo utilidade prática nisso. Este preâmbulo um tanto extenso – que em jornalismo recebe o pitoresco rótulo de “nariz de cera” – vem a propósito de uma declaração da atriz e escritora norte-americana Joanna Barnes, em entrevista publicada em 1985, a propósito de sua então recém-lançada novela “Silverwood”, que se propunha a narrar, de forma ficcional, histórias que ela assegurou serem verídicas ocorridas no mundo do cinema, mais especificamente, em Hollywood.

Ela declarou, na oportunidade, a propósito: “Vocês ficariam surpresos com o número de atores e atrizes que mudam o nome e seus antecedentes de família”. Quanto à adoção de pseudônimos, como já afirmei, não aplaudo e nem condeno. Mas quanto à segunda parte da sua declaração... Repudio com veemência. “Inventar” toda uma biografia, rigorosamente fictícia, provavelmente por “vergonha” da sua origem e da sua família é de uma desonestidade à toda prova. É, antes e acima de tudo, grande mentira. E não consigo justificar e muito menos apoiar e aplaudir o mentiroso (ou mentirosa, quando é o caso), a nenhum pretexto.

Mesmo o fato de alguns artistas (ou atletas, ou escritores, ou cantores, ou seja lá quem for) mudarem de nome, por razões que só a eles compete explicar, tão logo assinam o primeiro contrato profissional, é visto com certa suspeita por alguns. Também não os critico. É como se essas pessoas tivessem vergonha da profissão que escolheram e queiram se despersonalizar. Ou que tivessem algo de escabroso do passado para esconder. Claro que procedem dessa forma não por esse motivo. Geralmente fazem-no por questão de “marketing pessoal” ou algo que o valha.

Até certo ponto esse procedimento se justifica, embora, reitero, jamais recorreria a ele para iniciar e desenvolver uma carreira. Mas... Acompanhem meu raciocínio. Se fosse anunciada amanhã a exibição de um filme estrelado, por exemplo, por Marion Morrison, um western norte-americano, cheio de tiros e pancadaria, você se interessaria por ele motivado apenas pelo nome do astro principal? Dificilmente. Arrisco-me a dizer que não, por maior que fosse a publicidade em torno dessa produção.

Tudo, porém, mudaria de figura se em vez do nome real do referido artista se enunciasse o pseudônimo pelo qual se popularizou e se consagrou: John Wayne. Outro exemplo na mesma linha? Você conhece, por exemplo, a dupla de humoristas de Hollywood Joseph Levitch e Dino Crocetti? Não conhece? Os dois são, para você, ilustres desconhecidos? Pois lhe asseguro que não são. Esses dois são, nada mais nada menos, que Jerry Lewis e Dean Martin.

O leitor já ouviu falar, alguma vez, do “grande ator” Allen Stewart Konigsberg? Certamente que sim. Trata-se do genial Woody Allen, que tem encantado plateias do mundo todo com seu humor refinado. Alguém que soubesse que o filme “O anjo azul” tinha por estrela a atriz Magdalene Von Losch jamais iria ligar esse nome ao de Marlene Dietrich, que é como a atriz se consagrou. Nem assistiria ao “Frankenstein”, ou a qualquer outro filme de terror cujos personagens aterrorizantes fossem representados por um obscuro William Henry Pratt. Tudo mudaria de figura, porém, se fosse informado que se trata do ator Boris Karloff. Tony Curtiss, por exemplo, foi batizado como Bernie Schwartz, assim como Richard Burton chama-se Richard Jenkins; Maria Callas, Cecília Kalogeropoulos; Ava Gadner, Lucy Johnson e Fred Astaire, Frederick Austerlitz.

Por que os artistas mudam seus nomes? Seria para esconder algo obscuro ou delituoso ou vergonhoso e inconfessável em seu passado? Seria para que os amigos seus e de sua família não os identificassem e não revelassem podres de sua vida pregressa? No passado, pode até ser que a adoção de pseudônimos fosse por esses motivos (nunca se sabe). Mas no presente, tudo é uma questão de “marketing” . De “marketing pessoal”. De mera tentativa de “vender” bem um nome que seja mais “palatável”, ou seja, fácil de ser guardado na memória. Você concorda com isso? Acha que é uma providência relevante que facilite o sucesso e a fama? Eu não acho!

Boa leitura!

O Editor.

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