Máscaras
* Por
Eduardo Oliveira Freire
PREFÁCIO
Muitas
vezes, escrevo histórias com o mesmo tema. Isso na literatura é
falta de originalidade, mas para mim é interessante perceber os
temas recorrentes que me fazem pensar. Por exemplo, fiz uma pesquisa
no meu blog, colocando a palavra máscara e encontrei um monte de
minicontos relacionados com este tema. Resolvi, então, fazer uma
antologia. Para quem não leu, aproveitem a leitura.
***
A
máscara é o que é; vazia de significados. Quando alguém a coloca
no rosto, torna-se pele e quimera. Quando é retirada volta ser o que
é. Para viver, precisa se banhar na imaginação das pessoas.
***
“Todos
usamos máscaras e chega uma hora em que não podemos tirá-las
sem arrancar nossa própria pele.” André
Berthiaume
***
“TENHO
MEDO DE MASCARADOS”
– Tem
medo de você, então?
– Não
uso máscara.
– Todos
nós usamos, uns utilizam a máscara-objeto para ocultar só o rosto
e outros usam a máscara-invisível para esconder a alma.
A
MÁSCARA
Em
uma loja de antiguidades, a jovem entra, a vê e a rouba, por
impulso. Coloca-a
no rosto. Vive intensamente experiências nunca imaginadas e goza
cada momento.
***
Dias
depois, é encontrada morta na cama de um hotel barato. A máscara
retorna para loja. Outra jovem entra e a vê...
O
MASCARADO
Usava
uma máscara não para se esconder, pelo contrário, quando a
colocava vivia sua verdadeira identidade. Era o mascarado que
encantava crianças, adultos e idosos com seus truques mágicos.
Quando aparecia no vilarejo, as pessoas o rodeavam. A máscara era a
sua segunda pele. Era a face que escolhera e que representava sua
alma.
SÓ
DESEJO
De
repente Sandra sente alguém a agarrando. Ela dá um empurrão e o
homem mascarado rola da escada e cai inerte na sala. Desnorteada se
aproxima do corpo e tira a máscara. Era seu marido. Ao remexer no
bolso da calça, encontra a cópia do diário em que relata sua
fantasia de fazer um sexo selvagem com um invasor.
-
Amor! Era só desejo, Amor!
Sonha
com ele… Perseguindo-a e a possuindo vorazmente. Numa noite, o
mascarado retorna e ela teve o ímpeto de tirar a máscara. Levou um
susto ao ver seu próprio rosto. Acordou e se olhou no espelho. Viu
marcas de unha na face.
PERSONA
MARAVILHOSA
Vivia
para os outros e era considerada A GRANDE MÃE de todos. Sempre tinha
comida na sua casa para os que morriam de fome e remédios para os
adoecidos. Um dia, todos ficaram surpresos quando ela desapareceu e
uma enorme máscara foi encontrada sobre a cama.
LADO
OCULTO
Consideravam-no
um debochado que desrespeitava a tudo e a todos. Nunca descobriram
que quando a noite cai, ele retira uma máscara grotesca, revelando
assim sua verdadeira forma: um belo anjo de asas despedaçadas.
DESCOBERTA
-
Que máscara sombria!
-
É que descobri quem quero ser.
A
mãe correu desesperada para o quarto do filho mais novo, que estava
muito silencioso...
-
O que vai querer?
-
A menina que você esconde nessa máscara vulgar.
-
Isso nunca.
"
A MORTE LHE CAIU BEM"
Todos
o ridicularizavam pela sua feiura. Um dia, quando a morte o visitou,
colocou no rosto dele uma bela máscara.
REVELAÇÃO
O
menino tem pena de uma máscara que aparenta ser triste. Um dia, não
aguentando mais a melancolia dela, entra escondido no atelier do pai
e a joga pela janela. Quando o pai vê a cena, fica irado e lhe dá
um castigo de não brincar mais na rua por um mês.
Anos
se passaram, quando o pai vai ao cinema vê uma jovem atriz com
feições idênticas da máscara que fizera anos atrás. Tem uma
revelação. Ao chegar, liga para o filho já grande e que reside no
exterior:
-
Desculpa.
ALMA
GÊMEA
– Doutora,
eu vejo o que ninguém vê. As pessoas que andam pela rua, são
máscaras flutuantes. Inclusive você. Eu sou, na realidade, uma
geleca...
A
máscara flutuante da psicanalista se parte, aparecendo outra geleca.
As duas se fundem num enorme gelecão que atravessa o céu.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural
e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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