Exercitando os neurônios
A
necessidade de produzir textos diariamente pode se constituir em
excelente treino para se melhorar o estilo, tornando-o mais claro e
objetivo, mas, ao mesmo tempo, nos traz o risco de se constituir em
uma perigosa, se não fatal armadilha.
Não
é todo o dia que temos ideias brilhantes, humor estável e paciência
para escrever. Quando não temos a obrigação de redigir coisíssima
alguma nessas ocasiões, até por prudência, nos poupamos.
Mas...
e quando não podemos fugir dessa obrigação? O que acontece, por
exemplo, a um editorialista de jornal se chegar para o seu chefe e
disser: “Hoje não estou disposto, acordei mal-humorado e não vou
escrever o editorial”? Nem é preciso ser muito inteligente para
concluir que será demitido.
Ademais,
se não é todo dia que o redator acorda disposto, bem-humorado e com
ideias claras (o que muitos classificam de “inspiração”), o
mesmo ocorre com o leitor. Determinados textos que lemos, quando
nosso humor está em baixa, e que consideramos uma “droga”,
quando lidos tempos mais tarde, com humor mais leve, se revelam
excelentes e reveladores.
Por
isso, é até uma sacanagem muito grande com quem escreve julgar a
sua produção depois de apenas uma leitura apressada, não raro de
menos de um minuto, sem atentar para as nuances do que escreveu, e,
ainda mais, num “daqueles” dias.
Por
que exigirmos dos outros que sejam brilhantes o tempo todo, se nós
não conseguimos ser assim? Por que esperar do escritor que escreva,
todos os dias, um “Dom Casmurro” ou uma “Divina Comédia”?
Não há gênio que consiga fazer isso e, mais, que agrade,
simultaneamente, “a gregos e troianos”.
Escrevo
muita bobagem, sim, mas quem não escreve? Todavia, também produzo
páginas de qualidade, caso contrário, não gozaria do prestígio
que gozo junto a alguns milhões de pessoas que nunca me viram,
dificilmente verão e que me reconhecem pela minha obra, e não por
eventual simpatia, ou beleza ou seja lá o que for.
Ainda
assim, com todo esse risco citado, defendo que o escritor escreva
todos os dias, sim, mesmo naqueles em que não se sinta disposto, não
esteja bem-humorado e não tenha a menor vontade de escrever.
Corre
o risco de ser repetitivo? E daí?! Qual o problema de se repetir?
Afinal, qualquer treinador de atletas, não importa de que
modalidade, sabe e diz amiúde: “só a repetição nos aproxima da
perfeição”.
Faço,
da auto-obrigação de todos os dias produzir nem que seja simples
crônica uma espécie de “academia de ginástica”, em que eu me
exercito. Mas não exercito, óbvio, meus músculos, pois estes não
têm mais jeito. Exercito meus “neurônios”.
Reitero
que ninguém que tenha a obrigação de escrever todos os dias
consegue a proeza de ser brilhante, ou mesmo razoavelmente bom, o
tempo todo. Vejam os jornais. Há edições que são chatérrimas,
mas ainda assim precisam ir para as bancas, para atender compromisso
assumido com os assinantes. As “interessantes”, na verdade, são
raras. O mesmo ocorre com revistas, com sites, com blogs e vai por aí
afora.
O
processo de comunicação não é feito tendo gênios nos dois
extremos, ou seja, emissores e receptores. São pessoas comuns,
certamente melhor informadas que a imensa maioria, mas sujeitas a
tropeços e cochilos, a dias de indisposição e de mau humor, ao
tédio e às preocupações comezinhas que a vida impõe a todos.
Não
pensem que não haja momentos em que me questiono sobre a validade de
manter blogs na internet e me expor diariamente ao ridículo. Não
sou masoquista. Aliás, detesto sofrimento, seja de que espécie for.
Sou
um cara de bem com a vida e gosto de sorrir, de amar, de brincar, de
tecer amizades e de viver. Há dias (hoje, por exemplo) que não
tenho a mínima vontade de escrever. Mas tenho compromisso. E quando
me comprometo com alguém, ou alguma causa, movo céus e terra para
honrar o comprometido, esteja com vontade ou não, disposto ou
indisposto, distribuindo sorrisos ou cuspindo marimbondos.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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