A
fome do dragão
* Por
Ângelo Monteiro
Absurda
e veludosa
essa fome que o dragão
vem sofrendo pelas rosas:
bem mais mansa que a de pão.
essa fome que o dragão
vem sofrendo pelas rosas:
bem mais mansa que a de pão.
Ainda
que assim tão leve
como feita de veludo:
não é por isso mais breve
nem menos fome contudo.
como feita de veludo:
não é por isso mais breve
nem menos fome contudo.
É
triste ver o dragão
com tal fome sem remédio:
sobre pilastras de tédio
forjadas de solidão.
com tal fome sem remédio:
sobre pilastras de tédio
forjadas de solidão.
É
triste o desejo ver
tão belo mas represado:
de quem foi assinalado
de dragão para morrer.
tão belo mas represado:
de quem foi assinalado
de dragão para morrer.
E
há fome mais exigente
do que essa fome inventada
pela crueldade inocente
do sonho da coisa amada?
do que essa fome inventada
pela crueldade inocente
do sonho da coisa amada?
Mas
se não temeis dragões
nem vivos, nem fantasmais:
acautelai-vos, irmãos,
das fomes mansas demais.
nem vivos, nem fantasmais:
acautelai-vos, irmãos,
das fomes mansas demais.
*
Poeta e
ensaísta
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