Foto
– Quartel da Polícia do Exército, Cabanga-Recife, 1960. Na
foto,aparecem soldados da PE e, ao centro em pé, com capacete
(assinalado), o soldado apelidado por “Barruada”, abatido pela
Polícia do Exército, no golpe militar de 1964. Próximo, aparece o
autor, o terceiro da direita para a esquerda, idem de capacete. Os
demais estão de gorros de pala.
Vida
Militar
* Por
José Calvino
“Estamos
assistindo esse filme
Chamado
Brasil!
Todos
nós, sempre temos dito:
‘Esse
filme já passou’
Já
dizia Machado de Assis:
‘A
hipocrisia é a solda que une a sociedade’.
Quem
nos ensinou viver assim?”
Nossa
história estabelece que se diga a verdade sobre a conduta humana. Na
vida militar já evitei duas chacinas, uma em 1959, durante a greve
dos ferroviários. Eu servia na então 7ª Cia de Polícia do
Exército (PE). A outra, em 1972, em plena ditadura militar no
Presídio Professor Barreto Campêlo (Ilha de Itamaracá-PE), quando
os presos políticos começaram a esculhambar com a polícia (Guarda
do Presídio).
Prefiro
não entrar nos pormenores, até porque os comandantes já faleceram.
Mas, como iniciei esta crônica para que se diga a verdade, sugiro
que leiam “O caso eu conto como o caso foi”, do saudoso escritor
Paulo Cavalcanti, que foi vítima da ditadura militar (1964-85),
quando foi preso e conduzido de quartel em quartel, assistindo à
troca de prisioneiros até chegar ao então 14º Regimento de
Infantaria (14 RI) em Socorro-Jaboatão, sendo trancafiado num xadrez
do Corpo da Guarda, a noite toda.
No
outro dia pela manhã recebeu a visita do comandante coronel Ruy
Vidal de Araújo, elogiado no referido livro como uma pessoa
muito educada quando cumprimentou-o pedindo desculpas por ter passado
a noite naquele cubículo, pois Paulo Cavalcanti sendo advogado tinha
direito à prisão especial, ficando sete meses no cassino dos
oficiais com a alimentação sendo a mesma dos oficiais. Realmente, o
coronel Ruy era um homem educado, amicíssimo do meu sogro e que eram
Kardecistas convictos (ambos falecidos).
Dialogávamos
sempre na estação ferroviária de Floriano Socorro-Jaboatão e em
suas respectivas residências. Cita ainda Paulo Cavalcanti que, ao
ser transferido para o alojamento dos oficiais, teve longo convívio
com o ex-comandante da Polícia Militar de Pernambuco Hangho Trench,
que se encontrava também preso naquele regimento. Com razão, o
escritor deixou de generalizar certos preconceitos contra os
militares.
E
hoje, o que estamos assistindo?
Nota
do autor: No Recife, o regime fez as suas primeiras vítimas: os
estudantes Ivan Rocha Aguiar e Jonas José de Albuquerque Barros
(mortos) e um ferido, não identificado!
*Escritor, poeta e teatrólogo.
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