As
paixões humanas
* Por
Nikolai Gogol
Eu
considero inteligente o homem que em vez de desprezar este ou aquele
semelhante é capaz de o examinar com olhar penetrante, de lhe sondar
por assim dizer a alma e descobrir o que se encontra em todos os seus
desvãos.
Tudo
no homem se transforma com grande rapidez; num abrir e fechar de
olhos, um terrível verme pode corroer-lhe as entranhas e devorar-lhe
toda a sua substância vital. Muitas vezes uma paixão, grande ou
mesquinha pouco importa, nasce e cresce num indivíduo para melhor
sorte, obrigando-o a esquecer os mais sagrados deveres, a procurar em
ínfimas bagatelas a grandeza e a santidade.
As
paixões humanas não têm conta, são tantas, tantas, como as areias
do mar, e todas, as mais vis como as mais nobres, começam por ser
escravas do homem para depois o tiranizarem.
Bem-aventurado
aquele que, entre todas as paixões, escolhe a mais nobre: a sua
felicidade aumenta de hora a hora, de minuto a minuto, e cada vez
penetra mais no ilimitado paraíso da sua alma.
Mas
existem paixões cuja escolha não depende do homem: nascem com ele e
não há força bastante para as repelir. Uma vontade superior as
dirige, têm em si um poder de sedução que dura toda a vida.
Desempenham neste mundo um importante papel: quer tragam consigo as
trevas, quer as envolva uma auréola luminosa, são destinadas, umas
e outras, a contribuir misteriosamente para o bem do homem.
(Trecho
do conto “Almas mortas”).
*
Escritor russo, considerado o fundador da moderna literatura russa.
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