domingo, 3 de setembro de 2017

Desabafo


* Por Pedro J. Bondaczuk


Pois é, meu amigo,
o saco está cheio,
estou furibundo,
com raiva da vida,
com nojo do mundo,
sem ter qualquer meio
recurso ou guarida
pra desabafar!

Pois é, meu amigo,
eu andava a esmo,
em busca de nada
(talvez de mim mesmo)
em áspera estrada.

Pois é, meu amigo,
vivia calado,
sozinho, esquecido,
nervoso, cansado,
infeliz, ferido,
sem querer falar.

Pois é, meu amigo,
recursos não tinha,
a amada não vinha
e se olhava adiante,
a angústia era a minha
presença constante.

Pois é, meu amigo,
o uísque com gelo,
a mesa num canto,
dor de cotovelo,
um contido pranto
(pronto pra correr),
meu quarto, meu leito,
compunham meu jeito,
meu modo de ser.

Pois é, meu amigo,
já não penso em nada,
dinheiro ou amada,
louvores, vantagens,
descanso, viagens,
montanha ou o mar.

Não quero empreitada,
nem choro ou risada,
nem sol, nem luar.
Sou duro, sou frio,
sou oco, vazio,
sou grande perigo.
Estou furibundo,
com nojo do mundo
nem quero falar.
Não quero mais nada,
dinheiro ou amada,
só quero um amigo,
pra desabafar!


(Poema composto em Sumaré, em 29 de agosto de 1974).


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk



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