Desabafo
* Por Pedro J. Bondaczuk
Pois
é, meu amigo,
o
saco está cheio,
estou
furibundo,
com
raiva da vida,
com
nojo do mundo,
sem
ter qualquer meio
recurso
ou guarida
pra
desabafar!
Pois
é, meu amigo,
eu
andava a esmo,
em
busca de nada
(talvez
de mim mesmo)
em
áspera estrada.
Pois
é, meu amigo,
vivia
calado,
sozinho,
esquecido,
nervoso,
cansado,
infeliz,
ferido,
sem
querer falar.
Pois
é, meu amigo,
recursos
não tinha,
a
amada não vinha
e
se olhava adiante,
a
angústia era a minha
presença
constante.
Pois
é, meu amigo,
o
uísque com gelo,
a
mesa num canto,
dor
de cotovelo,
um
contido pranto
(pronto
pra correr),
meu
quarto, meu leito,
compunham
meu jeito,
meu
modo de ser.
Pois
é, meu amigo,
já
não penso em nada,
dinheiro
ou amada,
louvores,
vantagens,
descanso,
viagens,
montanha
ou o mar.
Não
quero empreitada,
nem
choro ou risada,
nem
sol, nem luar.
Sou
duro, sou frio,
sou
oco, vazio,
sou
grande perigo.
Estou
furibundo,
com
nojo do mundo
nem
quero falar.
Não
quero mais nada,
dinheiro
ou amada,
só
quero um amigo,
pra
desabafar!
(Poema
composto em Sumaré, em 29 de agosto de 1974).
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de
Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do
Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções,
foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no
Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios
políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas),
“Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da
Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º
aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53,
página 54. Blog “O Escrevinhador” –
http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Falar lava a alma.
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