Por
que ocupam a Câmara Municipal de São Paulo?
* Por
Urariano Mota
Falam as notícias desta sexta-feira:
“O plenário da Câmara Municipal de São Paulo continua ocupado, após 70 integrantes de diversos movimentos sociais invadirem o espaço com bandeiras e cartazes.
Os
manifestantes pedem o fim das restrições no passe livre estudantil
e protestam contra os projetos de lei (PL) 364 (venda do estádio do
Pacaembu), 367 (pacote de concessões à iniciativa privada) e 404
(venda de imóveis iguais ou inferior a 10 mil metros quadrados) e
pedem a realização de um plebiscito para que a sociedade possa
decidir sobre as privatizações. O presidente da Câmara não
atendeu ao pedido dos estudantes de retirada dos três projetos de
lei e disse que isso não é possível ser feito devido ao regimento
da Casa.
‘Não vamos aceitar propostas de privatização sem que a população seja ouvida. Exigimos um plebiscito’, disse Gabriela Ferro, representante do Movimento Juntos.
A manifestação segue pacífica. Estão no local representantes do Movimento Juntos, Une (União Nacional dos Estudantes), DCE (Diretório Central de Estudantes) da USP e Passe Livre”
As razões que escrevi no artigo “Por que ocupam escolas e universidades?” creio que continuam em plena validade. Ali, se falava:
Como
sempre, a televisão, a grande mídia, fala dos danos causados pelos
protestos à sociedade. Essa informação é conhecida: em todo
movimento ou greve, mostra-se o quanto a vida ficou ruim depois dos
baderneiros e agitadores. Jamais se mencionam as razões que levam à
desordem. Minto, mencionam, no cumprimento do papel de “mostrar o
outro lado”. Mas pelo tempo exibido, pela ênfase e eloquência, o
outro lado é mínimo frente aos estragos causados. Ensinava Brecht:
"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém
chama violentas as margens que o comprimem".
Por que os estudantes ocupavam escolas e universidades? Por que ocupam agora a Câmara Municipal de São Paulo? O que os estudantes me disseram ali podem muito bem falar os que ocupam hoje a Câmara Municipal de São Paulo:
“Acho que as ocupações são um movimento não tão grande quanto o necessário diante dos cortes que a gente vem sofrendo, mas se crescer em rede, a gente consegue parar o Brasil.
As ocupações têm contribuído bastante para a formação das e dos estudantes envolvidos por meio das discussões e principalmente do convívio diário.
Tem sido uma experiência incrível, em todos os sentidos: político, coletivo, de formação e pessoal. Além de reunirmos forças e vermos as e os estudantes despertando mais e mais pro fazer político, vendo estudantes que até então estavam distantes e apáticas se aproximando, participando, assumindo tarefas. Uma experiência real de coisas que a gente estuda, experiência de democracia real, de construção coletiva e de luta em defesa da classe trabalhadora e dos nossos direitos”.
E concluí antes o que concluo aqui:
Talvez
os estudantes não saibam o quanto são fundamentais à juventude que
viveu sob a mais feroz ditadura. Eles retomam agora o lugar de
gerações anteriores. E o que se foi continua em nova vida pelo fio
histórico da indignação. Eles nos falam que somos agentes da
duração do tempo, que a nossa vida é a resistência ao fugaz. Nós
só vivemos enquanto resistimos. Por quem os jovens ocupam? Ocupam
por todos nós, enfim.
*
Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa,
membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance
“Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici,
“Soledad no Recife”, “O filho renegado de Deus”, “Dicionário
amoroso de Recife” e “A mais longa juventude”. Tem inédito “O
Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros
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