Apenas meros fios
As
questões são múltiplas, infinitas, complexas e nebulosas enquanto
que as respostas são vagas, imprecisas, truncadas e parciais, que em
verdade nada respondem, mas se limitam a especular. Ainda assim, com
base em dados tão precários, contestáveis e vagos, o homem se
atreve a tirar conclusões de tudo e de todos. Não se apercebe que
não tem como se livrar do estigma da pequenez, efemeridade e ínfima
importância que carrega do nascimento à morte.
O
que hoje soa como absoluta verdade, dogma incontestável e
consensual, amanhã pode não passar de risível sofisma, do qual
todos venham a escarnecer. E não é o que acontece? Não ocorreu,
por exemplo, em relação ao formato da Terra?
Ainda
no século XV, os “doutos” entendidos de geografia e ciências
afirmavam que o Planeta era plano e que ao cabo dos oceanos então
conhecidos havia um abismo, habitado por gigantescos monstros, que
destruiriam quem se aventurasse a chegar lá. Hoje, no entanto, nem o
mais maluco dos malucos afirma uma sandice dessas, no auge de alguma
crise aguda de delírio.
Querem
mais? Não faz muito, há cinco séculos, se tanto (que em termos
históricos, não passa de recentíssimo “ontem”), era público e
notório que a Terra era o centro do universo. Que a lua, o sol, os
planetas, as estrelas e galáxias giravam ao seu redor.
E
ai de quem ousasse contradizer esse dogma. Era chamado às falas (na
verdade, não bem isso, mas... deixa pra lá) e, caso não admitisse
seu “erro” e não o abjurasse, solene e contritamente, poderia
virar churrasquinho numa fogueira, para satisfazer a sanha e a sede
de sangue da turba fanática e ignorante.
E
hoje? Há algum imbecil, desses portadores de dois únicos neurônios
e, assim mesmo, com um deles pifado, capaz de dizer tamanha sandice?
Todavia, não faz muito, isso era tido e havido como o suprassumo da
verdade.
Era,
óbvio, fruto de conclusões prematuras, com base apenas em toscas
aparências que, como todos sabem, costumam enganar (e como enganam)
tanto os incautos quanto os pseudodoutos quando abrem mão da
desejável cautela.
É
lícita, válida, útil e necessária esta nossa insaciável sede
pelo saber. Somos (e devemos ser cada vez mais) seres sumamente
curiosos, em busca de soluções para o que se nos afigura como
insondáveis mistérios e de explicações para o que pareça, ou de
fato seja, inexplicável.
Não
são as especulações, teorias e hipóteses, pois, que se tornam
condenáveis e que devemos evitar. São as conclusões, quase sempre
prematuras, precipitadas e baseadas, apenas, nas aparências,
principalmente quando estas aparentem ser lógicas e plausíveis.
O
verdadeiro espírito científico é o que tem como premissa
permanente estado de dúvida. É descartar qualquer “certeza”
liminar que na verdade nunca temos, mesmo que estejamos convictos de
ter. Crer, baseado exclusivamente nas aparências ou em fragílimas
evidências, não é fé, é mera credulidade. Fuja dos donos da
verdade, dos falsos gurus e dos que se arrogam a ter “a chave do
conhecimento”.
Gustave
Flaubert também se mostrou pasmo com a arrogância de alguns, e com
a estupidez de milhões de outros tantos. Os primeiros por, sem
nenhuma base sólida e nem dados concretos e indesmentíveis, saírem
por aí ditando cátedra e espalhando dogmas que só têm como
conseqüência o atraso na evolução mental e espiritual do homem. E
os segundos, por acreditarem em tudo o que lhes dizem, sem colocar
ínfima pontinha de dúvida. Declarou, a propósito: “Estupidez
consiste em querer chegar a conclusões. Nós somos um fio e queremos
conhecer o pano todo”.
Deveríamos,
desde crianças, ser educados nos princípios defendidos por René
Descartes, ou seja, os do “dubito, ergo cogito, ergo sum”
(duvido, logo penso, logo existo). No mais, tudo é questionável. A
única conclusão segura a que poderemos chegar é a de que
existimos, pois se temos a capacidade de duvidar, temos a de pensar.
E se contamos com essa habilidade, “existimos”.
Utilizando
o método do ceticismo, mas com a mente e o espírito abertos, sem
assumir atitude cética (mantendo predisposição de aceitar a
verdade quando ou se chegarmos a ela), chegaremos, talvez, a uma
raríssima conclusão válida, com chances de ser verdadeira: “só
sei que nada sei”. E sei lá alguma coisa?!!
Boa
leitura!!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Eu era cética, mas acreditava na ciência. Hoje duvido de tudo, inclusive dela, pois já vi muitas premissas levarem a conclusões falsas.
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