O
“Patriota Elegante” fecha suas portas
* Por
Marcelo Sguassábia
A notícia é triste e a
perda é irreparável. Com lágrimas nos olhos, moradores dizem que não conseguem
imaginar a cidade sem as coloridas vitrines do “Patriota Elegante”.
Há motivos para essa
nostalgia. Rara era a casa que não tinha no quintal, entre uma jabuticabeira e
um pé de graviola, um mastro para se hastear a bandeira nos dias cívicos -
transmitindo aos nossos guris belos exemplos de amor à pátria. Havia sorteio na
família para eleger quem teria a honra de ir puxando a cordinha até colocar o
lindo pendão da esperança lá em cima, ao mesmo tempo em que um parente
encarregado da sonoplastia mandava ver na sonatinha um compacto com o hino
nacional, interpretado pela Banda dos Fuzileiros Navais.
Mas nada é para
sempre. A extrema sazonalidade da demanda (basicamente Proclamação da
República, Dia da Independência e Dia da Bandeira), aliada à atual crise
econômica em que antipatrioticamente nos meteram, explicam o fato do
"Patriota" perder de vez a elegância, a freguesia e o fôlego para
continuar na praça.
O 19 de novembro deste
ano marcou o estrebuchamento final desse herói da resistência varejista. Cheia
de dívidas com bancos e agiotas, a casa tinha como última esperança de salvação
aproveitar o Dia da Bandeira para desencalhar pelo menos 950 unidades do nosso
símbolo augusto da paz. É claro que nem implorando à alma do Duque de Caxias
eles iriam conseguir isso, e a consequência aí está.
O tempo áureo para o
segmento foram os 21 anos do governo militar, especialmente quando dos festejos
da Semana da Pátria. Todos os alunos das escolas públicas eram obrigados a
alfinetar na blusa do uniforme uma fitinha verde e amarela ou uma espécie de
broche semelhante a uma medalha, só que de pano. Eram centenas de milhares de
quilômetros de fita assimilados compulsoriamente pelo mercado, que fizeram a
fortuna dos proprietários das grandes redes de artigos patrióticos.
À medida em que a
demanda por esse tipo de produto ia perdendo força, maiores eram os lampejos
criativos dos donos de lojas para tirar do vermelho a produção verde e amarela.
Já não tinham grande saída os pins de lapela com o retrato de Floriano Peixoto,
nem as gravatas modelo José Bonifácio de Andrada e Silva, nem as caixas de
charuto baiano fumados por Getúlio Vargas. O upgrade veio com a inclusão de serviços
voltados aos novos perfis de consumidor, como tatuagens com o brasão da
República ou com a célebre frase de Tiradentes: "Dez vidas eu tivesse, dez
vidas eu daria". Na tentativa de seduzir o público feminino, as lojas
introduziram em seu portfólio a chamada "Nail Art", ou design de
unhas, com a pintura de minirretratos da Imperatriz Leopoldina e da Princesa
Isabel. Aproveitando o recente revival da barba cheia e bem cuidada, os rapazes
passaram a contar com o Dom Pedro II Style como mais uma opção no catálogo
patriótico.
Nada disso, porém,
adiantou. O "Patriota Elegante" sai de cena, levando à fila do
seguro-desemprego cerca de 35 funcionários e deixando saudade em sua minguada
clientela. Pelas esquinas da cidade, comenta-se que seu tradicional prédio da
Avenida 15 de Novembro será locado para mais uma unidade da Pastelaria do
China.
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
O mercado das Copas e das manifestações políticas verde e amarelas poderia ter sido usado para salvar a Pátria.
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