Merecido destaque
nacional
O Festival Folclórico
de Parintins, no Amazonas, faz por merecer uma única designação que lhe cabe a
caráter: fenômeno! É isso mesmo e explico por que. Realizar um evento de grande
porte, que desperte as atenções nacionais, em alguma capital, já tem lá suas
dificuldades, que não são nada pequenas. Envolve uma série de questões, entre
as quais, a principal é, claro, a que se refere a custos. Não sai barato promover
alguma grande apresentação popular, seja show de rock, rodeio, carnaval,
micareta etc. Imaginem, então, as dificuldades logísticas e as despesas de uma
festa de três dias de duração, que envolva uma disputa tão renhida ou mais do
que a dos desfiles de escola de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo e, de
quebra, repeti-la, ano após ano, com
sucesso (e luxo) sempre crescente, mas numa cidade relativamente pequena! É
façanha digna de gigantes. Ou melhor, de pessoas extraordinariamente
competentes.
Pois Parintins, embora
não capital, e com uma população de 104.828 habitantes (conforme recentes
estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e, além de
tudo, situada no coração da Amazônia, onde os transportes são mais complicados,
com prioridade para o fluvial e o aéreo, situada na divisa com o Estado do Pará
e distante cerca de 370 quilômetros de Manaus, consegue isso. E mais, consegue
não apenas uma vez, mas quarenta e sete! E com tamanho sucesso, que o evento já
está inserido no calendário turístico nacional e internacional, por sua
grandeza, variedade e pelas emoções que proporciona aos que têm o privilégio de
assisti-lo. Considero (e de fato é) uma façanha sensacional do seu povo. Além
do que, o evento não só populariza como perpetua uma das principais
manifestações folclóricas brasileiras: o Boi bumbá.
Para aferir a
competência dos responsáveis pela montagem do Festival Folclórico de Parintins,
basta destacar que, a partir da sua divulgação por rede nacional de televisão,
vários profissionais dos dois principais bois locais, o Caprichoso e o
Garantido, passaram a ser bastante requisitados por escolas de samba dos
grandes centros do País e vários deles trabalham, há já bom tempo, na
preparação e apresentação, por exemplo, dos desfiles de São Paulo, no
sambódromo do Anhembi. Trata-se de gente muito talentosa, sem dúvida, e que
enriquece e valoriza as grandes escolas de samba paulistanas às quais presta
serviços.
Todos os anos, na
última semana de junho, Parintins veste-se de vermelho e de azul, as cores das
duas agremiações rivais e mais populares da região, e vive um clima de
rivalidade como não se vê nem mesmo nos campos de futebol em dias dos maiores
clássicos regionais. Quem integra o Caprichoso, ou torce por ele, considera
ofensa mortal ser confundido como membro ou como simpatizante do Garantido, e
vice versa. E nos desfiles no “Bumbódromo” – e ao contrário do que ocorre com
as escolas de samba, são três dias de apresentações e não apenas um – a torcida
conta pontos. Participa diretamente da competição. E, mais do que aplaudir o
seu lado e apupar o adversário, define o boi vencedor.
Se comparada com as
grandes cidades do restante do País Parintins perde – tanto no que diz respeito
à população, quanto em aparatos urbanos – na comparação regional, sobretudo do
Amazonas, ganha, disparado, das outras localidades. É a segunda maior e mais
importante do Estado, abaixo, apenas, de Manaus. E o turismo injeta,
anualmente, uma soma enorme de recursos que financiam seu desenvolvimento e a
ampliação da sua hegemonia. Ademais, seu magnífico Festival Folclórico divulga,
para todo o País e até para o exterior, a riquíssima cultura local, que de
outra forma seria ignorada, como acontece com tantas outras e extraordinárias
manifestações, de várias partes do Brasil, desconhecidas por falta de
divulgação.
Embora mantenham o
enredo central do “Boi bumbá”, ou seja, a história da morte, ressurreição e
nova morte do boi, o tema é explorado das formas mais variadas e criativas,
pelas duas agremiações rivais, nas letras das suas diversas toadas, no ritmo,
nas fantasias, nas evoluções e vai por aí afora. Afloram, sobretudo, as muitas
lendas locais, os rituais indígenas, os costumes das populações ribeirinhas e
tantas e tantas outras coisas, encenadas com garra, criatividade e verdade.
De 1966, ano do primeiro
festival, até 2005, o evento era realizado em datas fixas, ou seja, nos dias
28, 29 e 30 de junho. Isso limitava o afluxo de turistas, principalmente quando
essas datas caíam em dias úteis, de trabalho. Há oito anos, todavia, a Câmara
Municipal local houve por bem modificá-las. Fixou-as para o último final de
semana de cada mês de junho. Com isso, como era de se esperar, o número de turistas
aumentou expressivamente e a economia local deixou de perder três dias úteis de
trabalho, como ocorria anteriormente.
Nas 47 edições do
Festival, somente uma vez a disputa não ficou polarizada entre os bois
Caprichoso e Garantido. Foi em 1982, quando o grupo caracterizado pela cor azul
retirou-se da disputa, por discordar das notas atribuídas pelos jurados. Dessa
forma, o vice-campeonato ficou com o boi Campineiro. E o grande vencedor foi o
Garantido, sob intenso protesto dos adeptos e integrantes do seu grande rival.
Ao longo dessas quase
cinco décadas de desfiles, houve um único empate no primeiro lugar. Foi em 2000.
Nos demais anos, o vencedor foi ora o vermelhinho do Garantido (28 vezes
contando o título de 2013), ora o azulão do Caprichoso (18 vezes) sem contar o
empate para nenhum dos dois grupos. Cabe, na sequência, uma apresentação mais
decente e detalhada de Parintins. Isso, no entanto, fica, por razões digamos “logísticas”,
para outro dia.
Boa leitura.
O Editor
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Muito pitoresco. Diferente de tudo quanto há.
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