terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Brasil cruel

* Por Talis Andrade

Cabia ao Exército o vergonhoso papel de caçar negros fugidos. Os jovens oficiais eram todos capitães-do-mato. Até que se rebelaram.

Na Velha República, ainda cabia ao Exército o poder de polícia. A última delas foi a Guerra de Canudos, uma vitória que representou uma derrota. Assim o Exército recusou o poder de polícia a serviço dos grandes proprietários de terra.

Quando Lampião reinava no Sertão nordestino, o combate contra os cangaceiros ficou com as polícias estaduais. O Exército, que cortou a cabeça de Antonio Conselheiro, negou-se a decepar a de Lampião. As duas cabeças terminaram em um museu de Salvador como exibição da cordialidade brasileira.

Lula da Silva, no final do seu governo, decidiu devolver às Forças Armadas o antigo poder de polícia. O propósito ainda não ficou claro. Sabe o Exército, que sempre foi contra a reforma agrária, que os latifúndios hoje são estrangeiros.

As porteiras dos fazendeiros do ar

Em 1964, a ameaça da entrega das beiradas de estradas federais às ligas camponesas motivou a queda de Jango. Estradas que terminaram nas mãos de estrangeiros para a cobrança de abusivos pedágios.

As ilhas do Brasil todas ocupadas

Que a Marinha use seu poder de polícia para fiscalizar a posse das ilhas brasileiras - classificadas em oceânicas, marítimas e fluviais, para as obscuras facilidades de doações donatárias, e transas internacionais que valem bilhões. Estas ilhas, verdadeiros paraísos da natureza, desapareceram dos mapas, e várias mudaram de nome, como aconteceu com as Malvinas na Argentina.

Ilhas que são paraísos fiscais, feudos desconhecidos de celebridades internacionais e banqueiros ladrões, principados estrangeiros, cassinos internacionais, esconderijos de corsários de variadas bandeiras, lupanares do turismo sexual e mercado negro para os brancos bem nascidos. Ilhas que escondem portos, aeroportos, mansões luxuosos, clubes, redes de hotéis de luxo e luxúria.

As diferentes autoridades federais, em diferentes governos, que ofereceram nossas ilhas como concessões, jamais tiveram seus nomes revelados. Sei que é um cargo tão cobiçado quanto outros de possibilidades mil de enriquecimento infinito. Como os fundos de pensões especiais, as agências reguladoras, as presidências da Petrobras, do Banco Central, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, do Banco do Nordeste, do Banco da Amazônia. Com diria Palocci, ser governador geral da ilhas do Brasil é bem bão, melhor do que ser ex-ministro.


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 13 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Romance do Emparedado” (Editora Livro Rápido) e outros à espera de edição.

Um comentário:

  1. Uma pincelada sobre uma história que não se deve esquecer, mas que melhor seria que não tivesse acontecido. Bem curiosa essa função de polícia do Exército. Desconhecia essa fato. Cortaram a cabeça de Antônio Conselheiro, mas não a de Virgulino Ferreira da Silva, por mudança de foco e de função.

    ResponderExcluir