Testamento
* Por Edmundo Pacheco
Não gostaria de morrer
Antes de belas coisas dizer
Antes de ver o dia nascer
As flores, o florescer...
Não gostaria,
Antes de meu melhor best-seller
Motivar filas nas livrarias,
De minhas melhor peça
Lotar a Broadway.
Músicas do Eça.
Prêmio Esso.
Quadros no Masp.
Entrevista no Jô.
Amarelas da Veja.
Cliente VIP da Vasp.
Convidado da Hebe.
Da Gabi e do Clô.
Garoto propaganda de cerveja...
Não gostaria...
Mas ai, que sina,
se não garanto a diária morfina
Morro de fome na próxima esquina...
Se garanto, morro de tédio nesta latrina...
O best-seller arquivado
O cérebro aos vermes: doado.
A peça, incompleta: falta talento.
As flores, murchas, antes do nascimento.
Músicas do Eça? Nem toca no rádio!
Prêmio? Esso?
Nomes de posto? De carro? Gládio!
Quadros? Jô? Veja? Vasp?
Nem mesmo sei o endereço do Masp.
Poderia, antes de encerrar o meu ato
Dizer belas coisas: caricato.
Mas que belas coisas haveriam?
Quem gostaria de ler algo assim?
Um amigo?
Duvido!
- “Lamentações à volta do umbigo”
Na verdade,
Na verdade estou pronto
Se morrer agora, neste ponto,
Não deixo obra incompleta,
Apenas a despesa do enterro.
Por que, então?
Por que não?
Porque é bobagem?
Não. É que falta coragem.
*Jornalista, editor-chefe da TV Guairaca (afiliada Globo) Guarapuava, PR
domingo, 5 de agosto de 2012
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