quinta-feira, 14 de junho de 2012

O quinteto da festa


* Por Fernando Yanmar Narciso

Não havia coisa melhor para se fazer nas férias de escola que reunir todos os primos e vizinhos do bairro em torno da velha Telefunken de madeira da minha avó para ver a meia dúzia de canais disponíveis enquanto montávamos cidades de Lego e brincávamos de guerrinha com os bonecos do He-Man ou enquanto as meninas montavam a faraônica mansão da Barbie.

TV Cultura, Globo, Bandeirantes, Manchete, TVS (ÊÊÊÊÊ!) e, quando a antena UHF permitia, Record. Por anos a fio nem sentimos falta de mais canais, e sabem por quê? Porque naquele tempo os donos das emissoras pareciam se importar pra valer com as crianças, e havia programação infantil de “qualidade” em todos os canais. Não importava a direção que girássemos o botão seletor de canais, a festa sempre estava nos esperando.

Algo estranho sobre mim é que, quando criança, contrariando a ordem natural, não gostava dos infantis da Globo. Assim que Simony e Cia. ficaram crescidinhos demais para contracenar com o escalafobético Fofão e o Castrinho na Turma do Balão Mágico, Dr. Roberto Marinho trouxe em 1986 um dos maiores fenômenos infantis de audiência de todos os tempos: Xuxa, o Dorian Gray brasileiro, a musa bicentenária que nunca envelhece.

Desde o início eu sabia que Dna. Maria das Graças era uma extraterrestre com o objetivo de fazer os meninos babarem por suas coxas e as meninas invejarem suas botas brancas, pois ela chegava ao estúdio e ia embora naquele disco voador rosa de isopor e purpurina, fazendo meus priminhos chorarem todo dia antes do MG TV. Para eles o “Xôu” era como a novela das 8, e eu não podia dar nem um pio, pois todos estavam vidrados no programa. Os desenhos animados da emissora também não me agradavam, pois a maioria eram os desenhos de ação e de bichinhos bem-intencionados criados na década de 80, e um ou outro mais clássico.

Porém, nada era motivo de briga entre nós, afinal a manhã e o comecinho da tarde ainda eram longos. E quando a Xuxa entrava no intervalo, sempre havia outro programa noutros canais para assistir por 3 minutos até ela voltar. A TVS, futuro SBT, era meu porto seguro. Todos os desenhos bons de verdade estavam lá. Seus infantis deixaram muita saudade, apesar da produção mambembe. Não sei das outras crianças, mas não tinha como me fazer estudar com as quase 24 horas de programação infantil do canal do Abravanel. Peguei o finzinho do reinado do palhaço Bozo, e era fenomenal o poder do palhação de conquistar a criançada, muito maior que o dos Patatis e Patatás da vida. No último programa em 1991 ele chegou a lotar um estádio em São Paulo com quase 100.000 pirralhos.

Apesar de dar conta do recado numa boa, ele- Na verdade, eles, pois cinco atores revezavam o “papel de palhaço”- não estava sozinho em sua cruzada de alegria. No fim da década de 80, Bozo começou a dividir suas oito horas diárias de circo com o aloprado Serginho Mallandro e seu alucinante Oradukapeta, Mara Maravilha e seu solzão sorridente no Show Maravilha e Simony e seu Dó-Ré-Mi-Fá-Sol-La-Si, que passou a batuta do programa para a saudosa Mariane um ano depois da estréia. Isso sem falar dos sempre presentes Chaves e Chapolin, que ainda deixam as crianças loucas diante da telinha. Era como uma overdose de crack, mas com programas infantis. Impossível não ficar viciado neles!

E ainda tinha mais! Depois de ser “demitido” da Globo, Fofão ganhou um programa-solo na Bandeirantes, que fez também seu sucesso exibindo desenhos da Hanna-Barbera e os heróis japoneses mais pobrinhos, que até a Manchete tinha vergonha de passar.

Falando nela... Para crianças mais crescidas não tinha canal melhor na virada dos anos 90 que a saudosa Rede Manchete. Todos os heróis de zôio rasgado e armaduras coloridas favoritos da turminha estavam lá, sem falar na saudosa apresentadora Cinthia Raquel e na pseudo- Xuxa Angélica. Jaspion, Changeman, Jiraya, Cybercops, Ultraman, National Kid, a trupe tava toda lá, “defendendo o planeta”.

Também havia o extremo oposto de tudo isso. A TV Cultura, 1º canal politicamente correto, sempre esteve aqui para tentar colocar um pouco de juízo em nossas cabecinhas com seus programas infantis e desenhos europeus bem- intencionados. Não tinha violência nem pastelão, mas não estávamos nem aí. Meia hora de X-tudo, Glub Glub ou Rá-tim-bum divertiam quase tanto como uma guerra de tortas no circo do Bozo, e ainda ensinavam os benefícios da alimentação saudável e da higiene corporal, como as pernas da Xuxa nunca conseguiriam.

Dá até pena do que os catarrentos de hoje assistem... A programação infantil da TV aberta simplesmente não existe mais, apenas o SBT continua firme e forte com seus programecos interativos e alguns desenhos decentes, apesar dos apresentadores malas e da praga chamada Ben 10...

Esta atração continua amanhã.

*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

4 comentários:

  1. A turma na faixa dos 30 anos vai adorar recordar. A turma mais velha ficará perdida, e incapaz de entender tanta paixão. Ótimos momentos que jamais serão esquecidos.

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  2. Cheguei a assistir a Vovó Mafalda que as crianças teimavam comigo em afirmar que aquilo não era um homem...enfim.
    Adoro até hoje aquele ratinho co castelo Rá-Tim-Bum ensinando e divertindo.
    Gostava da turma dos "Gilmares" da TV Colosso e do grande e colorido Garibaldo.
    Sei que vai perceber nessa relação que em alguns casos eu não era mais criança, mas eu gostava...posso? rs
    Abração

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  3. Olá Fernando ! Lembro de apenas alguns desses programas infantis, embora eu não fosse telespectador assíduo. Afinal sou da velha guarda, cinquentão (rs). Sou do tempo do Shazam, Flash Gordon, Os Jetsons,Formiga Atômica, etc. ah, e não perdia os seriados Terra de Gigantes, Perdidos no Espaço, a garotada ia ver lá em casa e às vezes eu ia ver na casa deles. O Xou da Xuxa eu via com meus filhos no colo (rs. E como apreciavam ! A Turma do Balão Mágico. Meu filho com 7 anos adorava Jaspion. A comédia pastelão do chaves também entreteu muitos marmanjões como eu (rs). Mas como é bom recordar todos aqueles programas infantis que a telinha nos proporcionou,não é ! Embalando e acalentando nossos sonhos pueris.
    Havia muitas opções para a criançada mas hoje,realmente, como vc diz; os donos de emissoras hoje parecem não se importar mais com o público infantil como naqueles tempos.

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    1. Edir, eu sofri tendo de acompanhar Fernando nessas atrações, mas ao mesmo tempo ficava aliviada porque eram instantes em que ele conseguia se sentar e parar de correr e quebrar tudo, atitudes que refletiam a mescla acelerada de impulsividade e hiperatividade.

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