sexta-feira, 15 de junho de 2012

Irritante


* Por Rodrigo Ramazzini


- Alô!

- Alô! É do escritório de contabilidade?

- Sim!

- Com quem eu falo?

- Maciel!

- Bom dia, Maciel! Aqui é o Paulo, tudo bem?

- Oh, Seu Paulo! Tudo bem, sim! E com o senhor?

- Mais ou menos. Estou com um problema para tirar uma certidão negativa para a empresa e queria ver se tu podes me ajudar. Deixa eu te contar a história para entenderes...

Paulo começou a contar em detalhes o problema. Foram quatro minutos e 27 segundos até a primeira interrupção de Maciel...

- Entendi...

- Bom! Daí, eu procurei a Caixa Federal. Lá, eles me disseram...

Mais dois minutos e quarenta segundos se seguiram de esclarecimentos até o novo corte na conversa realizado por Maciel, que apenas ouvia tudo em silêncio...

- Aham!

- Pois é, Maciel! Pelo site da Receita Federal...

Decorrido mais um minuto de explicação sobre o problema, a ligação acabou “caindo”. Quatro tentativas depois, Paulo conseguiu restabelecer o contato.

- Alô!

- Alô!

- Esses telefones estão uma droga!

- Pois é, Seu Paulo...

- Mas como eu estava te contando Maciel...

Mais três minutos ao telefone elucidando o problema. Em meio ao desenrolar da história contada por Paulo, Maciel apenas soltou alguns grunhidos, sempre repetidos:

- Uhum!

Ao fim de mais de dez minutos ao telefone narrando as dificuldades, com explicações nos mínimos detalhes sobre o assunto, a conversa entre Paulo e Maciel caminhou para o “grand finale”:

- Esse é o meu problema!

- Aham!

- Entendeu todo o rolo, Maciel?

- Entendi sim!

- Ótimo! Como podes me ajudar a resolver?

Silêncio. Depois de alguns segundos, marcados por ansiedade e expectativa por parte do Paulo, Maciel em tom sóbrio e um tanto desinteressado, respondeu:

- Bom! Eu não sei como lhe ajudar, Seu Paulo. Isso não é comigo. Mas, eu vou passar a ligação para a minha chefa e daí o senhor conta toda essa história para ela que vocês encontrarão uma solução, Ok?

E antes que Paulo tecesse qualquer comentário ofensivo, Maciel repassou a ligação...

• Jornalista e contista gaúcho

Um comentário:

  1. Coisas resolvidas via telefone costumam ter esse final frustrante e sem serventia. Poucos não perdem as estribeiras e partem para os palavrões. Foi contado do modo exato.

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