* Por Lêda Selma
“... E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra metade também.” – Oswaldo Montenegro
Tenho duas metades conflitantes:
uma é inquietaude,
a outra, solidão.
Uma é desassossego,
a outra, calmaria.
Tenho duas metades contrastantes:
a que sossega dores,
a que instila lembranças.
Uma conduz-me a delírios,
a outra, a saudades.
Tenho duas metades piedosas:
uma é ataúde,
a outra, liberdade.
Uma é espólio de medos,
a outra, covil de desejos.
Tenho duas metades intrigantes:
uma é reduto de gritos,
a outra, motim de prazeres.
Uma é ida sem caminho,
a outra, volta com atalho.
Tenho duas metades poderosas:
uma reza feito santa,
a outra, serpente, profana.
Uma é casta, quase insana,
a outra, fugaz e devassa.
Tenho duas metades tortas:
uma enlouquece e amedronta,
a outra persegue e abate.
Uma é fantasma,
a outra, impiedade.
Tenho duas metades implacáveis:
uma é morte,
a outra, tempo.
Uma satiriza verdades,
a outra martiriza sonhos.
Tenho duas metades sutis:
uma é rastos de lua,
a outra, restos de chuva.
Uma diz o que sinto,
a outra, o que minto.
Tenho duas metades perigosas:
uma recende amor,
a outra provoca a vida.
• Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”, “Erro Médico”, “A dor da gente”, “Pois é filho”, “Fuligens do sonho”, “Migrações das Horas”, “Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não!”, entre outros.
Um belo e instigante poema. Parabéns !
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