Polícia viva no feriado de
Finados
* Por
Alex de Souza
Madrugada de sexta para
sábado. Feriadão de Finados. Eu, preparando o meu programa na Rádio
Haroldo de Andrade, que vai ao ar às 3h da manhã, quando o porteiro
do nosso prédio, localizado à Rua Buenos Aires, no coração do Rio
de Janeiro, me liga:
- Sr. Alex! Estão tentando
roubar o seu carro aqui na porta do prédio – diz este
porteiro-anjo, que acompanhava a ação pelas câmeras de segurança
do prédio.
Eu, sem acreditar no que ouvia, enchi o pobre coitado com aquelas técnicas de jornalismo que aprendemos ainda nos primeiros períodos da faculdade.
- Estão roubando o meu carro?
Quem? Como? Por quê? Aonde?
Neste momento, caí na real.
Estou no centro do Rio, paro o carro em plena Buenos Aires, feriadão,
rua deserta, nem sombra de autoridades. É acreditar muito na sorte
ou achar que ladrão folga nos feriados (sic).
Corri ao elevador e desci os 19 andares que me separavam da porta de saída e da surpresa que esperava lá embaixo. Como encontraria o carro?
- Um cara alto, com mochila de
viagem nas costas, bermuda, com uma chave nas mãos, parou em frente
a porta do motorista e tentou abrir o carro com a chave que estava,
Sr. Alex. Não conseguiu abrir e saiu. Mas, pode voltar.
A última frase dita pelo
porteiro-anjo me fez coçar a cabeça. “Como assim, pode voltar!?”
Retornei ao elevador e lá fui eu, 19 andares acima, entrar no ritmo
e continuar a preparar mais uma edição do Madrugada 1060. Mas,
aquela frase não parava de martelar: “[o ladrão] pode voltar”.
Olhei para o telefone e resolvi arriscar: 190 e, do outro lado da linha:
- 190, fulano de tal, bom dia!
Por motivo de segurança a sua ligação será gravada –disse o
atendente.
- Ok. Meu nome é Alex de
Souza e, estão tentando roubar o meu carro – fui objetivo.
- Qual o seu carro? Placa?
Cor? Quantos homens? Estou enviando uma viatura ao local para
averiguações.
- Muito obrigado – disse eu.
Mas no fundo, eu pensei: “vai
virar estatística! Ninguém virá aqui. A Polícia Militar tem mais
o que fazer. Será que virão investigar uma TENTATIVA de
roubo?”
Surpresa! Em menos de 10 minutos, o porteiro-anjo
ligou novamente:
- Sr. Alex, a Polícia está
aqui e eu não sei de nada!
Pensei: “Porteiro-anjo?”
Desci os 19 andares e lá
chegando, surpresa! Dois carros, tipo blazer, com policiais
fortemente armados, vestidos com coletes à prova de balas, com caras
de mau e sedentos por encontrar o meliante. Respondi a uma série de
perguntas, descrevi o infeliz com a ajuda do porteiro (que perdeu a
santidade!). Ele (o porteiro) respondia as perguntas do
policial com a minha ajuda. Virei assessor de imprensa dele. Não
sabia que ele não falava com autoridades, confidenciou-me mais
tarde.
Descrição feita, documentos
apresentados, e os PMS, simpáticos, deram a entender que, pela
descrição, sabiam quem eles iriam procurar. Aperto de mão pra cá,
aperto de mão pra lá. Polícia viva no feriado dos mortos. Programa
no ar.
- Bom dia Rio, Bom dia Brasil,
hoje é sábado 3 de novembro de 2007, o Madrugada 1060 está no ar e
espero que o meu carrinho esteja na porta do prédio quando descer!
* Radialista e jornalista
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