Atrasos
na Educação brasileira
* Por
Frei Betto
Os
cortes no orçamento da Educação, feitos pela tesoura implacável
de Temer, fazem de seu governo uma ponte para o passado.
O IBGE divulgou, no apagar das luzes de 2017, dados do PNAD que retratam a situação educacional do Brasil em 2016. O analfabetismo perdura em 7,2% da população com mais de 15 anos de idade. São 11,8 milhões de analfabetos, equivalente à população de Cuba, que erradicou o analfabetismo em 1961.
Convém
lembrar que o PNE (Plano Nacional de Educação), aprovado em 2014,
previa para 2015, ano anterior ao dos dados acima, a redução do
analfabetismo, que abrangeria apenas 6,5% da população... Prevê
ainda a erradicação total do analfabetismo no Brasil para 2024,
daqui a sete anos. Além de Cuba, já eliminaram o analfabetismo, na
América Latina, Venezuela, em 2005, e Bolívia, em 2008.
Entre
os jovens de 14 a 29 anos, 33,4% estavam empregados mas não
matriculados em uma escola, em 2016. Estudavam e não trabalhavam
32,7%. Estudavam e trabalhavam 13,3%. E o mais grave: a turma do nem
nem, que nem estudava nem trabalhava alcançava o índice de 20,5%,
ou seja, 24,8 milhões de jovens daquela faixa etária.
De
cada 100 alunos que concluíram o ensino médio, apenas 7 aprenderam
o suficiente em matemática, e 28 o conteúdo básico de língua
portuguesa. Quantos de nossos universitários são capazes de fazer
cálculos simples sem uso de calculadora ou redigir uma carta sem
graves erros de gramática?
Apenas
53% dos adolescentes de 15 anos chegam ao ensino médio, com 34%
deles ainda no ensino fundamental. Na média dos países ricos, 90%
dos estudantes entre 15 e 17 anos já chegam nesta etapa.
Houve
algum avanço no Brasil: a fatia de estudantes que concluíram o
ensino médio subiu de 53%, em 2010, para 64%, em 2015.
Porém, na educação infantil os índices estão abaixo da média. Apenas 3,1 milhões de crianças de 0 a 3 anos frequentam creches, o que equivale a 30,4% da população nessa faixa etária.
O
acesso ao ensino superior avançou no Brasil, mas ainda está abaixo
da média. Só 15% dos adultos (25-64 anos) chegam a esta etapa do
ensino, abaixo de países como Argentina (21%), Chile (22%), Colômbia
(22%), Costa Rica (23%) e México (17%).
A
diferença de salário entre quem faz faculdade e quem não faz é
maior no Brasil do que em outros países: uma graduação pode render
salário até 2,4 vezes maior no país, ante 1,5 na média dos países
da Europa Ocidental. Se o profissional tiver doutorado, a diferença
é de 4,5 vezes, mais do que o dobro da Europa Ocidental.
O
salário pago aos professores brasileiros também está abaixo da
média – paga-se o equivalente a 13 mil dólares por ano, em média,
e 30 mil dólares nos países ricos.
Apesar
da gravidade dos dados, Temer continua cortando verbas da Educação.
*
Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou”
(Saraiva), entre outros livros.
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