Só
um sonho
* Por Núbia
Araujo Nonato do Amaral
O sol batia em meu rosto que,
insistente, me obrigava a abrir os olhos. Era domingo e o cheirinho de café
impregnava a casa. Meu pai acabara de chegar com os pães quentinhos, todos bem moreninhos
e crocantes.
O dia era tão especial que até presunto
tinha, mas dele não senti nem o cheiro, Quidinho, nosso gato, havia comido
quase tudo. Minha mãe voou com a tábua de carne em cima dele, mas o bichinho de
pança cheia deu no pé. Nem mesmo ela conseguiu segurar o riso.
O almoço já estava a meio caminho
andado, galinha ao molho pardo e
macarronada. A pele da galinha nós disputávamos aos tapas, pois, tostada, era
uma delícia. Hoje em dia é um veneno.
Depois do almoço resolvemos brincar de
trivias, um jogo de perguntas e respostas, essa era a parte mais divertida do
dia, pois minha mãe roubava escancaradamente e com a cara mais deslavada do
mundo.
No final do dia lá foi ela para o sofá
com o seu tecladinho que tocava de
ouvido, não conhecia uma nota musical sequer. Eu me deitei no chão e acabei adormecendo ao som de seus
acordes.
- Buba! Acorda! Buba...
Acordei com o som de sua voz sumindo. Foi
um sonho. Levantei-me do sofá, verifiquei se a casa estava fechada e apaguei as
luzes. Fui para a cama, mas ainda podia ouvir sua voz doce ecoando em minha mente e nas lembranças.
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Poetisa, cronista e contista
As mães desaparecem, mas continuamos tendo o consolo dos sonhos.
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