Regresso
* Por
Evelyne Furtado
Ontem ouvi o chamado
do mar e hoje atendi. Aniversário de meu tio no edifício onde antes foi casa de
veraneio dos meus avós e a primeira casa que conheci.
Explico: saí do
hospital onde nasci para a casa de Areia Preta, praia de veraneio naquela
época, atualmente praia urbana e um dos metros quadrados mais valorizados de
Natal.
Aquele é o meu mar. O
mar onde a menina já grandinha subia no parapeito do grande terraço para olhar
os navios ou se perder no horizonte. Dirão que não é o mesmo mar. Também não
sou a mesma menina. Mas em um ponto nos encontramos.
No meu íntimo aquele
lugar e eu estamos ligados desde que nasci. È naquele mar que deságuo quando a
alma transborda. Meus olhos reconhecem aquele verde espelhado, que por sua vez
reflete um coração frágil.
Escrevi o poema de
ontem, sem associá-lo ao convite da festa do tio querido. Fui a uma festa de
família e só depois de beijos, abraços e muito papo, senti mais forte o
chamado.
Fui a um lugar mais
isolado e fiquei a sós com o mar. Não pensei em nada, mas senti. Não sei se foi
a beleza tão comum aos meus olhos, mas que ainda me encanta sem explicação ou
se foi um contato mais próximo e silencioso comigo mesma.
A partir de então
deu-se o contrário e quis voltar para a minha casa. Lugar onde moro hoje, a
poucos minutos do mar, porém longe o suficiente para me proteger da dor causada
por algo que me falta hoje e pela incômoda sensação de não estar sendo leal a
mim mesma, na tentativa de me adaptar a uma nova maneira de viver contrária à
minha natureza sincera e espontânea. Mais um passo dado no sentido do
amadurecimento ou o velho medo de crescer? Só o tempo dirá.
*
Poetisa e cronista de Natal/RN.
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