Os ventos
* Por
Miguel Jorge
Ritmo louco, os ventos. Pontas finas de lâminas
frias, sanhas de asas verdes de canas.
O que vai e vem os ventos levam sobre areias,
sobre pedras, difícil é sair de suas aragens.
(De curta emboscada, os ventos, é certo que
fascinam)
Bicho de céu e chão, poderiam voar mais alto
como os pássaros à caça, a presa e suas garras.
Bate forte o vento sobre as portas nuas das barcas,
e se inclina ao fogo, nascido nas manhas de
domingo.
De extintas casas, nascem os ventos, trilhos por
onde
nunca se passam. Tudo é ácido, e é doce, e é
crível:
o levantar de voos de promíscuas palavras.
E bate, e bate forte esse cavalovento. Pupilas que
se cruzam pelas pontes, clareiras de raízes que se
perdem,
crinas acinzentadas atravessam os astros.
Bate e bate esse pássarovento inventando nomes
assassinados. Verdes frutos que o orvalho guarda
sob as pálpebras, e outras águas devoram.
* Poeta, romancista e contista
matogrossense
Nenhum comentário:
Postar um comentário