Tarot
* Por
Assionara Souza
Vou confessar, querida
Tenho isso de gostar dos loucos
Observo de longe o jeito que eles comem com os
olhos
Com você foi assim
Esse esmalte vermelho sempre em dia
Esse passado colado no álbum com cantoneiras e
papel vegetal
Quero a receita completa
Desde o suspense antes do desfecho da trama
O disparo, teu olho assustado pra câmera
Por trás da palavra pêssego
corre um rio espesso
Mordo a palavra pêssego
E as comportas desabam — uma cidade inteira vem
abaixo
Corremos, corremos para bem longe do set de
filmagens
Vida real é um cão dormindo no silêncio da tarde de
um domingo
*
Assionara Souza nasceu em Caicó (RN), em 1969. Mora em Curitiba. Leciona
Literatura Brasileira e Produção Textual. É mestranda em Estudos Literários
pela UFPR e estuda trânsitos entre literatura e artes plásticas na obra de
Osman Lins. Em 2005, publicou o livro de contos Cecília Não é um Cachimbo, pela
editora 7Letras.
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