Para pensar
melhor
* Por Pedro J. Bondaczuk
O consumidor habitual de livros, aquele que reserva verba
mensal do seu orçamento doméstico para adquirir esse “alimento” fundamental do
espírito e que movimenta o mundo editorial, viabilizando-o como negócio, muitas
vezes reluta em adquirir obras técnicas, voltadas para administração de
empresas, economia, relacionamentos profissionais etc. Entende que se trata de
publicação específica, destinada a um público certo, por sua utilidade prática
para as áreas a que supostamente se destina. Acho bobagem de quem tem esse tipo
de idéia.
Todo livro, seja técnico ou não, tem o que ensinar ao leigo,
notadamente quando se destina a desenvolver seu potencial e a auxiliá-lo a ter
desempenho melhor. Também não sou avesso às obras consideradas de auto-ajuda,
desde que o leitor, claro, não as considere soluções “mágicas” e infalíveis
para todos seus problemas e o autor não as apresente como tal. Você sempre irá
encontrar (salvo raras exceções), conhecimentos úteis que, de uma forma ou de
outra, irão melhorar seu desempenho e sua vida.
A maioria dos compradores opta por adquirir livros de
ficção, voltados, principalmente, ao lazer, como romances, novelas e contos.
Claro que não me oponho a essa opção, desde que não seja exclusiva. Desde que
esse consumidor habitual reserve, também, recursos para esse outro tipo de
publicação. Tenho em mãos, por exemplo, um livro supostamente voltado à área
empresarial. Seu título, no entanto, já sugere utilidade para todas as pessoas.
É “Pense melhor”, que só não interessaria a quem se recusasse a pensar (como se
isso fosse possível) e entendesse que o pensamento é coisa dolorosa e ruim.
Óbvio que não é.
O autor desse alentado e precioso volume, de 293 páginas,
Tim Hurson, sul-africano de nascimento, mas criado em Manhattan, Nova York,
cosmopolita metrópole norte-americana, é um entusiasta do pensamento produtivo.
Daquele que não se limita a mera elucubração (que também é útil, por sinal),
que não gera nenhuma ação e, portanto, não produz resultados objetivos e
práticos (embora possa produzir os subjetivos).
Trata-se de uma publicação que já tem certo tempo (data de
2008), da DVS Editora, com tradução e adaptação (na edição brasileira), de Beth
Honorato. Tive a honra e o privilégio de ser citado nominalmente em uma das
notas explicativas de rodapé. Mas, creiam-me, não é esta a razão de eu abordar
esse livro e recomendá-lo a todos vocês. Li-o, avidamente, pois o estilo de Tim
Hurson, fluente e direto, é convidativo e o tema sempre me fascinou.
Há quem entenda não ser possível a ninguém melhorar a
natureza e a qualidade do seu pensamento. Quem pensa dessa maneira está
equivocado. Como se diz confidencialmente: “está redondamente enganado”. Há
métodos eficazes e até infalíveis que nos permitem essa melhoria. É aquela
questão de treinamento a que me referi recentemente em uma das minhas
considerações neste espaço. Da mesma forma que nosso corpo necessita de
exercício para ter desempenho melhor, o raciocínio também requer treino regular,
disciplinado e constante.
Além da explanação da sua tese, acompanhada dos métodos para
desenvolver capacidade maior (e melhor, obviamente) de raciocínio. Tim Hurston
cita a opinião de vários escritores, filósofos, enfim, personalidades
vencedoras, a esse propósito. Como esta, do laureado escritor, dramaturgo e
ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, o irlandês George Bernard Shaw: “A
imaginação é o princípio da criação: imaginamos o que desejamos, desejamos o
que imaginamos e, finalmente, criamos o que desejamos”. E não é assim que as
coisas funcionam?
Claro que essas citações têm que ser contextualizadas, o que
o autor faz com habilidade e inteligência. Reproduz, por exemplo, essa
importante constatação feita pelo escritor norte-americano Will Rogers, para a
qual raramente atentamos: “Não é o que não sabemos que nos prejudica, mas o que
temos certeza de que é verdade e de fato não é”. Cita, também, o que Jim
Collins comprovou: “O bom é inimigo do ótimo”. E não é?! Via de regra nos
contentamos com ele e não buscamos melhorar, achando que isso não é possível,
quando, no entanto, é.
Como se vê, mesmo que você não seja empresário ou ligado à
área empresarial como funcionário (como gerente por exemplo, ou chefe dop setor
de RH), poderá extrair preciosas lições desse excelente livro. Em recente
entrevista para o canal Canadá AM, Tim Hurston observou o seguinte sobre sua
tese e, mais especificamente, sobre a necessidade de se pensar melhor: “O
modelo de pensamento produtivo é uma estrutura comprovada. Podemos, de fato,
pensar melhor, mais sólida e eficazmente se aplicarmos essa ferramenta para
criar soluções originais para problemas empresariais de grande complexidade e
solucionar problemas pessoais prementes. Tanto no âmbito pessoal quanto no
empresarial , o pensamento produtivo pode mudar significativamente a vida das
pessoas”.
Em determinado trecho dessa entrevista, Tim Hurston faz esta
enfática exortação: “Fuja do pensamento padrão!”. O autor traz este exemplo
prático do quanto é útil, e econômico, buscar soluções simples para problemas
práticos complexos, mediante pensamento criativo: “Dentre as inúmeras
descobertas que a NASA fez quando começou a mandar pessoas para o espaço foi
que as canetas dos astronautas não funcionavam bem por causa da ausência de gravidade.
A tinta não fluía apropriadamente. Para solucionar esse problema, a NASA gastou
milhões de dólares em pesquisas e protótipos para desenvolver o que passou a
ser chamado de space pen ou caneta pressurizada. Já os soviéticos, também
conseguiram solucionar esse mesmo problema, mas de uma maneira bem mais barata
e, há bons motivos para acreditarmos, bem mais eficaz: eles forneciam lápis aos
astronautas!”. Simples assim. Bastou que se pensasse melhor.
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Alta complexidade vai bem em máquinas para diagnóstico e operações para doenças complicadas. O simples ainda tem espaço no século XXI.
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